A nasalização do ditongo ui, em muito, há "muinto" que faz parte da norma, como referem Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 49). É possível que o ui se tenha tornado nasal por eventual influência ou assimilação da consoante nasal que inicia a sílaba mui-, ainda que esta pronúncia nunca tenha sido indicada graficamente através de til, de m ou de n. Certos falares regionais chegam mesmo a suprimir o i de "muinto" – num fenómeno porventura equivalente ao que aconteceu com fruto (fruito) e truta (truita), palavras que, no percurso, também perderam o i. O "muinto" cede, assim, lugar a um "munto", de origem regional, de feição mais popular e tradicionalmente excluído da pronúncia normativa, considerada mais elegante, o qual é claramente audível nesta reportagem da Correio da Manhã TV, a propósito dos desacatos entre adeptos do Futebol Clube do Porto e do Sporting, no passado dia 27 de outubro de 2013, e onde se podem ouvir as expressões: «"muntas" garrafas», «"munta" confusão», «"muntos" adeptos», «as coisas estão "munto" complicadas», «"muntas" cargas de adeptos», «a situação é "munto" complicada», «"muntos" gritos», «momentos "munto" complicados», «"munta" polícia»… Por hábito do português mais padronizado e normativo, confesso que não me recordo de ter ouvido num meio de comunicação social e de forma tão garbosamente assumida muito, muitos e muita pronunciados como "munto", "muntos" e "munta"…