A recente tragédia da Noruega, em que um jovem fundamentalista cristão chacinou mais de 80 pessoas, levou os jornais a debruçar-se sobre as ideias contidas num Manifesto que este teria escrito. O Diário de Notícias (de 25 de Julho de 2011, p. 4) apresentou até algumas passagens do mesmo, não sei se com tradução própria, se alheia. E a dado passo surge isto:
«Os europeus nativos devem exigir um período transitório de deseurabificação pública […]»
Li, reli, não percebi e continuei. A luz fez-se no final daquela caixa de texto que apresenta uma frase destacada onde se lê: «As propostas do manifesto são básicas: acabar com a UE, que apelida de “Eurábia” (fusão de Europa e Ásia) […].»
A deseurabificação mais não é, pois, do que, segundo ele, a desarabização da Europa. A minha intuição linguística aconselharia a pegar no termo arabização, que já existe, e adicionar-lhe o prefixo des-. Ou, quando muito, por fidelidade ao Manifesto e ao conceito de Eurábia — certamente decalcado do de Eurásia — propor uma deseurabização. Agora é possível, ainda que me pareça linguisticamente menos legível, e menos conseguido, ir buscar a sequência sufixal -ficação — de -ficar, de sentido causativo, e -ção, que indica resultado de uma acção — e adicioná-lo a Eurabi-.
Por último, resta dizer que a Eurábia ainda aparece grafada com aspas, mas o novel deseurabificação não tem direito nem a aspas, nem a itálico a assinalar a novidade.