E, pronto! Aí está ele, o verbo bitaitar, assim mesmo e sem aspas, utilizado por Ferreira Fernandes, na sua habitual coluna da última página do Diário de Notícias, numa crónica intitulada «Não, não pode, um ponto é tudo!» (12 de Maio de 2011):
«Há uma norma fundamental, não escrita mas que é aceite pelos líderes partidários, que é a de não bitaitar sobre cenários a vir.»
A palavra não está dicionarizada, mas já está o bitaite, com uso abundante na oralidade, geralmente de forma mais coloquial. Tendo deixado entrar o bitaite, era, pois, uma questão de tempo até aparecer o verbo bitaitar. O Grande Dicionário da Língua Portuguesa (GDLP), da Porto Editora, consagra o bitaite, referenciando-o como calão e com o significado de «opinião» ou «palpite».
Etimologicamente, apresenta-o como sendo de origem obscura. Poderá tratar-se de uma corruptela de bitate (regionalismo de Portugal), também referenciado como de origem obscura por Houaiss, e significando «afirmação contrária à verdade; mentira» ou «conversa para ludibriar a polícia».
Ora, um bitaite, mais até do que uma opinião ou um palpite, definição que não me parece abarcar semanticamente todas as cambiantes da palavra, é sobretudo uma opinião ligeira, pouco reflectida, pouco fundamentada. Confesso que, por isto, me interroguei, quanto à etimologia, se o bitaite não poderia provir de bit, a mais pequena unidade de informação processada por um computador e que, traduzida num sistema binário, assume a forma de zeros ou uns. A um bitaite, opinião expendida de forma informal, pode corresponder um outro bitaite, construindo-se, com estes singelos zeros e uns, uma narrativa! Também me ocorreu, considerando a eventual corruptela de bitate, se não haveria uma parentela com a palavra tatibitate, referenciada como de origem onomatopeica, para significar alguém «que tem dificuldade em falar ou pronunciar bem as palavras; gago; tátaro; tartamudo» ou «que ou o que é indeciso e pouco desembaraçado» (GDLP), ou ainda «que ou aquele que, ao falar, troca certas consoantes» e, por extensão de sentido, «que ou aquele que gagueja, que tartamudeia»; «que ou aquele que é muito acanhado, embaraçado»; ou «que ou aquele que é palerma, tonto» (Houaiss). Note-se, aliás, que também existe o verbo tatibitatear.
Esclareça-se, porém, e para que não restem dúvidas, que estas lembranças não passam, também elas, de meros bitaites…