Pouco tenho a observar em relação ao que diz o consulente. Saliento a atenção com que segue os desvios linguísticos produzidos entre jornalistas e políticos e agradeço os apontamentos que envia, num estilo mordaz, em que, é verdade, não me revejo. A razão é simples: enquanto consultor do Ciberdúvidas, não me compete fazer sátira vicentina, bocagiana ou de qualquer outra índole, antes de me documentar para compreender a natureza do erro e ajuizar sobre a sua gravidade.
Esta tarefa conjuga-se com outras, bem identificadas pelo consulente, mas infelizmente com recurso a termos depreciativos que, acho, ninguém merece no Ciberdúvidas: «ensinar como se designam os habitantes de A-dos-Pardais» é muito simplesmente identificar formas correctas para certa classe de palavras — os gentílicos —, convocando a memória da língua pela etimologia e as suas regras estruturantes pela morfologia. Mesmo que um "A-dos-Pardais" qualquer esteja longe do epicentro do mal-estar político e social português, não deve haver lugar para marginalizações, no que toca ao esclarecimento linguístico, tal como não se ignoram as chamadas de atenção de quem, num grande centro urbano, acompanha infatigavelmente a actualidade, desde que tais apontamentos tenham pertinência e sejam adequados.
Também gostaria de frisar que a menos abonatória expressão «desenrascar os professores da Língua, atrapalhados com o VOLP e com as chomskices da Gramática Generativa» não designa trabalho despiciendo, porque se trata de ajudar os professores num momento especialmente difícil da educação em Portugal (e, passe a imodéstia, provavelmente no resto do mundo).
Quanto à felicidade, completamente de acordo: a cada um a sua, em respeito mútuo.