O uso da língua e as conveniências políticas
Neste sítio, vejo muitas vezes falar em Brasil e Portugal como realidades culturais e linguísticas em si. Mas o que torna Portugal e o Brasil entidades como tais, na medida possível, são imposições político-administrativas do gênero do acordo ortográfico. No fundo cada país tem o seu 'acordo' ortográfico interno. Se virmos as coisas livremente, do ponto de vista cultural e linguístico, não existem tais realidades...
Moro em Londrina, aqui as pessoas dizem porta como se fossem um inglês a pronunciar, no Rio de Janeiro como se fossem um francês, em Minas Gerais como se fossem um português... Por o outro lado ao pronunciar as os do Rio de Janeiro fazem-no como se fossem um português, e os de Minas Gerais como se fossem um espanhol. Aqui no Brasil, deparámo-nos surpreendentemente com pronúncias ao estilo de Viseu, Açores, etc. Não, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília não são o Brasil... Brasil é muito mais...
Temos que assumir o acordo ortográfico como uma decisão política, que é o que é. Aqueles que defendem, que Portugal e Brasil deviam seguir caminhos diferentes por terem realidades diferentes, já se revoltariam ao ouvir o mesmo para Santa Catarina e São Paulo, ou Minho e Algarve... Porquê? Porque isso iria contra as suas conveniências políticas. Só isso...
Peço ao Ciberdúvidas para não alinhar nessa hipocrisia. Que se defendam as convicções políticas que se quiser, mas sem usar a nossa língua em vão.
