Aqui deixamos a carta deste nosso consulente, a quem agradecemos também os votos de parabéns.
Começo por endereçar os meus parabéns pelo serviço público que prestam.
Pretendo saber se é do interesse do Ciberdúvidas publicitar uma carta enviada ao director do Público e publicada em 11 de Abril último, como resposta a artigo de Rui Tavares.
Com os melhores cumprimentos e desejando a continuação do excelente trabalho.
«O significado de desacordo
Em artigo do Público de 09/04/2008, Rui Tavares rebate os argumentos de quem suscita uma putativa inconstitucionalidade do Acordo Ortográfico, para além da destruição da ortografia e dos gastos na substituição de obras que este acarreta. Apoda-nos, contestatários do acordo, de instigadores dum “carrossel da confusão, da chantagem emocional e do catastrofismo”. Deixando a inconstitucionalidade aos constitucionalistas e as razões da “destruição” a Vasco Graça Moura, permitam-me contestar os gastos e a tese “Machado de Assis”.
Começando pelos gastos, esse truísmo. É um dado adquirido a passagem dos livros, actualmente expostos nas nossas bibliotecas (públicas e privadas), ao estatuto de antiguidades, não sendo a questão dos gastos despicienda. Um entre muitos, mas crasso e exemplar, é o Dicionário da Academia, encarnado por um dos paladinos do acordo (Malaca Casteleiro), a ter entrada directa na categoria de velharia, menos de dez anos após a sua publicação (...). Mais importante é o horror que Machado de Assis sentiria ao ler “traduit du brésilien”, nas traduções em francês da sua obra.
Acontece que a situação não se altera com o acordo, pois, com a sua desventurada entrada em vigor, manter-se-ão aspectos da dupla grafia, claramente distintivos do português de aquém e de além-Atlântico, sem esquecer especificidades, como os famosos “moleque” e “rapaz” dos dois Harry Potter da APEL. Ou seja, com ou sem acordo, o “traduzido do brasileiro” continuará. Neste aspecto, o acordo não é devir, é imutabilidade. Sem escalonamentos de língua, confira-se, por exemplo, o inglês escrito nos EUA, que nas edições francesas surge como “traduit de l’américain” e nas alemãs “aus dem Amerikanischen übersetzt”.1 A solução para este evidente disparate não está no acordo, mas sim na mudança de mentalidade dos editores responsáveis pelas traduções nos países francófonos e germanófonos.
Francisco Miguel Valada»
1 «Traduit de l’américain» (francês), «aus dem Amerikanischen übersetzt» (alemão) = «traduzido do americano»
Cf. Acordo Ortográfico in Controvérsias.
Aqui deixamos a carta deste nosso consulente, a quem agradecemos também os votos de parabéns.
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