Nada tenho a acrescentar a este contributo que o nosso consulente tão generosamente quis partilhar. Aqui o deixo, para outras achegas de quem nos leia.
Ler resposta A formação da palavra menino.
Em referência à pergunta de Alberto Virella sobre a formação da palavra menino, gostaria de contribuir algumas considerações que poderiam ser interessantes para ele e para todos.
No século XVIII, Frei Martín Sarmiento, a grande figura galega do Iluminismo, na sua obra Colectânea de Vozes e Frases Galegas, encontra na forma latina minimus (superlativo de «pequeno») a origem da forma menino. A mesma origem é dada por Francisco del Rosal (1601) para o equivalente espanhol niño. Outra forma latina relacionada é minor, provávelmente origem da forma catalã minyó e das forma francesas mignot e mignon. Para o significado «pequeno», o português tem também a forma mindinho (o dedo pequeno), que também foi o nome do trovador galego-português Meendinho.
Em inglês, a forma minion – tirada do francês – tem, entre outros, os significados «escravo, criado» – no sentido de um «moço pequeno ou menino jovem que está ao serviço de alguém» – e também, em sentido carinhoso, «querido» ou «queridinho» (V. Kernerman English Multilingual Dictionary © 2006-2013 K Dictionaries Ltd; American Heritage® Dictionary of the English Language, Fifth Edition. Copyright © 2011 by Houghton Mifflin Harcourt Publishing Company; Collins English Dictionary – Complete and Unabridged © HarperCollins Publishers 1991, 1994, 1998, 2000, 2003, entre outros).
Com estes significados de «moço, criado» e «jovem» achamos as formas mininho e meninho nos cancioneiros medievais galego-portugueses:
«– MININHO = menino, jovem: {Pero Garcia d´ Ambroa} o beesteiro, com´ era mininho,/non catou quando s´ achou nos colhões! 331.20. || Criado, servo: {D. Pedro de Portugal} e disse-me un seu mininho / que ben certo foss´ eu disto 328.11.
«– MENINHO = menino: {Estevan da Guarda} pero parece menin[h]o, / ... parar-se quer a tod´ alvoroço 116.4 || adj. {adx.} = juvenil: {Afonso Soarez} pero x´ el é mancebo, quer-x´ ela mais meninho 67.2, 7, 12, 17. || Servo, mancebo: {Pedr´ Amigo de Sevilha} e log´ un seu meninho / troux´ o lume na mão 322.10. Na alta Idade Média os servos chamavam-se também pueri , designação mais tarde substituída por mancipii («mancebos»). Os termos meninho, moço são os correspondentes vulgares dessas formas latinas, aplicadas a serviçais ainda jovens» (Em M. Rodrígues Lapa, Cantigas d´escarnho e de mal dizer dos cancioneiros medievais galego-portugueses. Vigo: Galaxia ["Vocabulário galego-português", pp. 1-111]).
Por razões óbvias, em português foi conservada sempre a forma ortográfica com nh, dígrafo de origem occitana introduzido em Portugal no século XIII. A ortografia galega não foi estandarizada oficialmente sobre o modelo português porque a Galiza estava já sob o domínio de Castela e do castelhano. Não obstante, há um certo uso medieval das grafias nh e lh juntamente com ñ e ll, finalmente reforçada esta opção pela coincidência com o castelhano, língua imposta para a administração na Galiza e única língua de cultura no mínimo desde o século XV, momento em que o galego deixa de ser escrito.
Portanto, mininho e meninho são termos antigos galego-portugueses conservados como apelidos na Galiza. Um exemplo sou eu, que me chamo Alberto Mininho Castinheira. Por sua parte, em Portugal não se conservam como apelidos e, como substantivo comum, evoluíram para a forma moderna menino, com o significado de «1. o varão desde que nasce até à adolescência; 2. moço». A vacilação da vogal i/e responderia ao processo de neutralização do timbre das vogais átonas que operava e opera em galego-português, daí as variantes mininho, meninho, e minino, menino, as duas últimas com perda do traço palatal do nh.
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