Helena Soares, doutoranda em Linguística Portuguesa, enviou para o correio do “Público” uma carta que me é dirigida.
Pergunta-me onde podemos encontrar esse amplo movimento de opinião contra a TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básicos e Superior). Diz que contou apenas meia dúzia de reacções. Vejo que sabe de línguas, mas não de números. Eu contei muito mais. Não sei se são altas autoridades que "têm cátedra fixa" nos meios de comunicação social. Eu vejo-os em muitos casos como gente da cultura que não tem apenas a Linguística à sua frente. E acho lamentável a referência a Ricardo Araújo Pereira, que é um verdadeiro cronista, com a vantagem de ter sentido de humor.
Quem são os linguistas que estão contra? Por sinal, o decano dos linguistas portugueses, Morais Barbosa, e mais em quem não escasseia o bom senso. Que esta terminologia, a famosa TLEBS, tenha sido feita por 15 mil professores, gostaria de saber com que secretismo isto aconteceu. Conheço escolas em que todos os professores de Português estão contra e nunca ouviram falar neste perturbante número de 15 mil.
Estou de acordo em que haja uma terminologia de referência. Apesar de tudo, também fiz Linguística no meu curso de Românicas. Mas a referência não pode ser esta. Há na TLEBS «vocabulário pouco acessível para os professores»? Responderei sem tergiversar: há. «Apontem-se estes problemas. Mas com honestidade, não com arrogância e ignorância." Temos vindo a apontá-los. Reconheça isso, minha cara amiga.
No texto de Maria Helena Mira Mateus, também defensora convicta da TLEBS, existe sobretudo uma estratégia de comparação com o vocabulário de tipo literário. E a Maria Helena pergunta: «Os escritores não gostam do modificador, do anafórico, do agentivo? Mas gostam com certeza da aférese, da síncope, da apócope ou de prótese, epêntese e da paragoge, ou de crade, da sinérese, da diérese que estão na Nomenclatura de 67.» E aqueles que não aceitam a TLEBS são acusados de «conservadorismo reaccionário».
Só gostava de saber que estranhos escritores a Maria Helena conhece. Iria jurar que mais de 90 por cento nunca quiseram saber da paragoge ou da crase. Limitam-se a escrever e a defender a sua escrita. E aqueles que escrevem sobre literatura podem falar em noções de formalismo, desconstrução, fenomenologia, marxismo, narratologia ou pós-modernismo. Mas não possuem nenhuma terminologia mais ou menos fixa de referência. Daí que me pareça algo de absurdo este (reconhecível) «deixem-nos trabalhar». Trabalhem à vontade, mas não se esqueçam que ensinar não é a mesma coisa que trabalhar em Linguística e fazer de alunos, que resistem à própria leitura, cobaias indefesas de uma experiência científica.
In Público de 1 de Dezembro de 2006