DÚVIDAS

Uso da 2.ª pessoa do plural, novamente

Lamento, mas não é convincente a resposta de A. Caffé – que veio em socorro de João Carreira Bom – à minha consulta sob o título "Uso da 2.ª pessoa do plural, mais uma vez". Diz ele: "...o emprego da segunda pessoa do plural, na linguagem corrente do Brasil, afecta a identificação da pessoa que fala, ou seja, cria uma barreira entre o falante e o ouvinte ao indicar um domínio dos instrumentos de comunicação que o ouvinte não tem, por não o utilizar no seu cotidiano."

Concordo em que o uso da segunda pessoa do plural, no Brasil, "afeta a identificação da pessoa que fala", mas jamais posso supor que afeta a compreensão da pessoa que ouve. Pois foi isto que João Carreira Bom afirmou, ressalvando que este fenômeno existe no Brasil, não em Portugal.
Por outro lado, espero que A. Caffé não esteja insinuando que a generalidade dos ouvintes no Brasil não dominam um certo "instrumento de comunicação", no caso, o uso da segunda pessoa do plural. Há os que não o dominam (uma criança de 3 anos, por exemplo), e há os que o dominam (uma criança em fase escolar, aprendendo a conjugar os verbos).

Obrigado.

Resposta

Em retórica, a utilização de termos não usuais na linguagem corrente, ou fora de seu contexto normal, caracteriza a figura do estranhamento (conforme Lausberg, Heinrich, Elementos de Retórica Literária, 2º ed., Lisboa, Fundação Gulbenkian, 1985). É a isso que eu me referi – no Brasil, a utilização da segunda pessoa do plural provoca o estranhamento, que pode não ser compreendido como figura de linguagem.

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