Caro consulente, o atraso da resposta deve-se a dificuldades suscitadas pela etimologia deste venenoso adjectivo.
Em alguns pontos do País, «coitadinho» não passa de eufemismo de «cornudo». Palavra horrível! Em várias localidades do Baixo Alentejo, se designarmos alguém como «coitadinho» ou «coitadinha», podemos criar, assim, um equívoco.
«Coitadinho» não é calão. Na maior parte das regiões de Portugal, tanto pode revelar carinho como desprezo. O mesmo se diga de «coitado», de onde deriva.
O surdo-mudo é «coitado» ou «coitadinho», tal como o coxo, o maneta, o zarolho, o doido, o desfigurado, o queimado, o marido enganado, a mulher traída. São «desgraçados» (ou, se mudarmos de tom para frisar o sentido, uns tantos são «desgraçadinhos»). Na lógica da nossa tradição religiosa, perderam a graça de Deus, que os marcou, os queimou, os acrescentou ou diminuiu. Mas, cautela, deste ponto de vista, também o adúltero é desgraçado, embora não seja «coitadinho».
Esta é interpretação possível, perante a seguinte transformação da palavra latina «cocta» (no percurso inverso): «coitadinho» > «coitado» > «coita» (substantivo que significa pena, sofrimento, dor, e era muito usado na poesia trovadoresca: «coita de amor») > «cocta» (particípio passado contracto do verbo latino «coquere» - cozer, cozinhar, queimar, fundir, amadurecer, secar, meditar, preparar maduramente, atormentar e fazer secar, no sentido de aborrecimento).
À etimologia consagrada em várias obras, preferimos esta, recolhida em Carolina Michaellis de Vasconcelos, porque aponta um elemento sentimental que se nos afigura convincente: a «coita de amor», o «sofrimento de amor» transmitido pelos trovadores. É, de outro modo, difícil explicar a emotividade envolvente dos «coitados» e «coitadinhos» que todos nós somos.