Os vocábulos que indica apresentam o mesmo número de sílabas e idêntico contexto fonético à direita para a primeira vogal (<o>), ou seja, em boca e foca esta é seguida da consoante fonética [k], e em mocho e rocha é seguida da consoante fonética [S]. A dúvida da consulente reside na diferente pronúncia da vogal o nos dois pares m[o]cho/r[†]cha e b[o]ca/f[†]ca.
Estes vocábulos de origem latina (de notar que rocha pode ter sido originado do latim popular *rocca) sofreram alterações na sua forma, através de mudanças fonéticas.
Ao nível do vocalismo acentuado, deu-se uma redução das oposições fonológicas, deixando o sistema vocálico de conter dez diferentes segmentos vocálicos para passar a conter apenas sete. O motivo para tal mudança reside na modificação acústica que atingiu o acento das palavras.
Ou seja, as vogais acentuadas deixaram de ser mais altas do que as átonas, e passaram a ser mais intensas.
Esta mudança acústica provocou a alteração de todo o sistema vocálico tónico, desaparecendo a oposição fonológica entre vogais longas e breves, tornada impossível uma vez que o acento de intensidade alongou necessariamente a quantidade das vogais nele envolvidas. Esta mudança não se trata de uma mudança condicionada pelo contexto (ocorre em todas as formas da língua latina em que estas vogais ocupam a posição acentuada), logo trata-se de uma mudança fonológica e não fonética, livre de restrições associativas com sons vizinhos (sintagmáticas), mas sujeita a restrições com sons alternativos (paradigmáticas).
Por esse motivo nas palavras foca e boca temos um o fechado, enquanto em mocho e rocha temos um o aberto:
u (breve tónica) passou a o (fechado) – bucca>b[o]ca; mutilus>m[o]cho
o (breve tónica) passou a o (aberto) – phoca>f[†]ca/; *rocca>r[†]cha