O Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, regista as palavras Scalabis e Escalábis, mas não nos dá o significado delas:
«Scalabis, top. ant., nome pré-romano de Santarém (q.v.) mencionado em Plínio, Nat. Hist. (IV, 117), no Itin. Anton. e em C.I.L, II, p. 35, 85, 813, 1030. Os Romanos chamaram-lhe Praesidium Julium. De idioma pré-romano, mas não parece celta. Séc. XVI: «A quinta colonia era a cidade Scalabis, que he Santarem a que os antigos também chamauão Prâsidium Iulium», D. Nunes de Leão, Descrição do Reino de Portugal, cap. 8, p. 48, ed. de 1785. Ver Scabelicastro.
Scabelicastro (...) Escalabicastro, top. séc. XVI: «& o sempre enobrecido/ Scabeliscastro...», Lus. (III, 55), forma exigida, como parece, pela métrica. Este será o «cruzamento de Calibicastro (por ex., em Duarte Galvão...) com o latim tardio Scalabiscastrum», segundo o Voc. Ver o comentário de Epifânio Dias àquele passo dos Lus.
Escalábis, top. Aportuguesamento do nome romano de Santarém. Do lat. Scalăbis (Plínio, Nat. Hist. IV, 117), de origem obscura. Séc. XVIII, em Bocage, I, p. 344.
Escalabitanos, etn. Do lat. Scalabitănos, os habitantes de Scalabis. Como adj. no séc. XIX: o grande palácio escalabitano», Garrett, Viagens na Minha Terra, II, cap.º 37, p. 121»
Procurámos ainda no mesmo dicionário a palavra Santarém, de modo a ver a sua etimologia:
«Santarém, top. Cidade no Ribatejo; devido a esta, em Alandroal, Arraiolos, Castro Daire, Coimbra, Figueiró dos Vinhos, Guimarães, Sernancelhe, V. N. de Gaia, V. N. de Ourém; no Brasil, Pará (Santarém e Santarém Novo). É ainda obscura a origem deste top. Pondo de parte a inaceitável hipótese germânica (ver P. Miguel de Oliveira, Santa Iria e Santarém em lenda e história, pp. 7-55), ocorre perguntar se não se trata de der. de Santar (q. v.) ou de mais um exemplo de nomes pré-romanos com o suf. -en de que se ocupou Pidal, Prer., pp. 107-158 ou um dia teremos os argumentos ou o argumento, com que passamos a ficar convencidos, de que Santarém é resultante do nome de Sancta Irene, alterado este último em Eirena (J. J. Nunes, Gram. Hist., 47) é que parece reflectir-se no Sanctaeiren de 985 (Dipl., p. 94)? Ver L. V., Opúsc., III, p. 248; na p. 413 lê-se: «É provável que ou ao Santuário de Santa Iria, situado na margem do Tejo, onde hoje está Santarém, ou à povoação se desse o nome de «Santa Irene de Scallabis», tendo depois a segunda parte do nome sucumbido diante da importância do primeiro. Irene, ou Ierene é, como se sabe, um nome grego, eirēnē1, que significa a «paz». Sant'Eirene explica perfeitamente a moderna forma Santarém, por intermédio de Sant(a)eirēe > Santarém. O ditongo que se observa na sílaba inicial do nome da Santa em Santaeirēe não deverá corresponder ao grego, mas ter-se já, em português, desenvolvido do i de Irene: isto é, Eirēnē > Irene > Eirēe...» Sobre este assunto é importante a leitura do estudo do Doutor P. Avelino de Jesus Costa sobre Santa Iria e Santarém (sep. da Rev. Port. de História, vol. 14.º). a lenda deve ter estado presente dos que escreverem Sancta Herena em 1055 - 1065 (Leges, p. 349) e Sanctae Herene em 1147 (D.M.P., I, p. 272). Essa origem em nome de mulher talvez seja a causa da forma Sactarena em 1262 (Dissert., IV, p. 173), 1265 (Kalendas, I, . 113) e 1306 (Id., p. 199). Ainda o facto de se tratar de "santa" explica o latinismo gráfico Sanctaren, Santarem em 1088 (Dipl., p. 419), 1147 (D.M.P., I, p. 272), 1155 (id., p. 319), etc.; ainda se usava pelo menos em 1273 (id., p. 110). Santarene nos séculos XII-XIII (Script., p. 5); Santaren em 1218 (D.M.P., I, p. 31).»
Contudo, esta explicação dá-nos informação quanto à origem e significado da forma moderna Santarém, e não à forma Scalabis. Esta forma, como dito, é pré-romana e de origem obscura. Desta forma, o significado de Scalăbis, is já em latim, como podemos ver no Dicionário de Latim-Português da Porto Editora, é « Cidade da Lusitânia (Santarém)// -bitānus, a, um, adj. Escalabitano, de Santarém», e não podemos, por esta razão, saber o seu significado. Há várias crenças e lendas quanto à origem de Scalabis, como a lenda de Abidis, por exemplo, contudo, estas não são atestadas, como refere e explica Luís Mata, 2006, em Santos e Pescadores – Santarém entre o Mito e a História.