A ortografia é sempre um tema um tanto ingrato, porque a sua explicação é, na maioria das vezes, meramente convencional. Os nomes próprios não fogem à regra, apesar de estarem, como todas as outras palavras, sujeitos a uma evolução fonética que frequentemente acaba por se reflectir na ortografia.
Os apelidos acabados em -z são quase todos de origem germânica (muito comuns na zona norte de Portugal, onde esses povos se instalaram) e são compostos por um nome próprio, mais a desinência do caso latino genitivo -icis (que indicava a família a que se pertencia). Assim, Fernandez = Fernando + icis (ou seja, o filho de Fernando); Rodriguez = Rodrigo + icis (filho de Rodrigo); Gonçalvez = Gonçalo + icis (filho de Gonçalo). Por esta razão, o primeiro rei de Portugal era D. Afonso Henriques (porque era filho de D. Henrique).
Acontece que a forma -icis evoluiu foneticamente para -ez (ês), como aliás ainda hoje se diz em castelhano. Em Portugal, no entanto, essa evolução continuou, seguindo a regra do vocalismo átono (todas as vogais não acentuadas do português tendem a ser reduzidas ou 'fechadas'), começando a dizer-se 'Rodrigues', como hoje dizemos. Seguiu-se, depois, algo que acontece frequentemente que foi uma actualização da grafia para dar conta dessa nova maneira de pronunciar.