«Renovo» é título de um conto de Miguel Torga, em Novos Contos da Montanha (1944). Durante uma epidemia em Vilalva, Pedro, doente, pergunta insistentemente à mãe pela namorada, Lucinda. Esta mãe, que vê morrer marido e filhos, anima o seu agora único rebento (logo, aquele que poderá renovar a estirpe) com mentiras piedosas, que são, ao mesmo tempo, no auge do sofrimento, um incentivo ao combate pela vida, um sinal de «fé e coragem». De súbito, dobrados os sinos a finados e, enfim, no silêncio da resignação, tal a mortandade, tocam aqueles para um baptizado: é aí que a mãe Felisberta, trazendo o filho para o mundo da luz, assinala «as leiras em pouso», isto é, sem cultivo, e lhe noticia o que já adivinháramos: a morte de Lucinda. Na passagem da morte à vida, na promessa dessa criança que surge do meio da morte, há um desafio à existência, como se dá na terra que experimenta as estações e a mão do homem. Em sentido literal, renovo é rebento; em sentido figurado, é filho, geração, descendência; Torga serve-se, naturalmente, de um provincianismo transmontano, quando designamos, ainda hoje (também sou transmontano), a horta como renovo.