A maior parte das fontes bibliográficas pesquisadas1 não faz referência à expressão em apreço, contudo foi possível encontrar alguma informação sobre o assunto no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, na obra de Maria Tereza de Queiroz Piacentini2 e no Dicionário de Barbarismos da Linguagem Corrente, de Francisco Alves da Costa, a qual pode contribuir para uma utilização mais esclarecedora da locução.
1 – Maria Tereza de Queiroz Piacentini esclarece que «as formas a utilizar deverão ser "quando mais não seja" e "tanto mais não seja", já que o cruzamento de quando e tanto é que leva a quanto.
Exemplos:
i. "Convém protestar, quando mais não seja para provar que estamos vivos."
ii. "Embora sonolenta, pretende recitar todos os versos de cor, tanto mais não seja para agradar à tia, empertigada na primeira fila do teatro"».
2 – O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, por sua vez, só atesta a forma «quanto mais não seja», que pode ser parafraseada por «se outra razão não houver, ao menos».
3 – Francisco Alves da Costa refere a propósito de alguns discursos jornalísticos que as formas «mais que não seja», «que mais não seja» ou «quanto mais não seja» «são uma deturpação arbitrária da locução "quando mais não seja"».
Deste modo, um esclarecimento fundamentado nem sempre se torna possível quando as fontes disponíveis se revelam pouco esclarecedoras. Contudo, textos do século XIX evidenciam que «quando mais não seja» será anterior a «quanto mais não seja»:
«... e pedem com justiça a extincção da Junta, ou ao menos quando mais não seja, que se lhe marquem os instrangredíveis limites da sua jurisdicção...» (Carta Única... de José Agostinho de Macedo, 1828, p. 20).
«... e que a esse fim adoptemos o arbítrio, que haja de segurar ao lavrador a venda da sua novidade por preço tal, que, quando mais não seja, lhe cubra o granjeio, e o alimente...» (Diario das Cortes Gerais, Extraordinarias e Constituintes da Nação Portugueza – Segundo anno da legislatura, Lisboa, Imprensa NacionaL, 1822, p. 3772).
A expressão parece ter sido mais tarde reinterpretada como «quanto mais não seja», o que tem dado origem a oscilações no uso, as quais se refletem na própria edição de textos do século XIX (cf. comentários de "Quanto mais/quando mais" no blogue Linguagista, de Hélder Guégués).
Numa breve pesquisa na internet foi possível verificar que a forma «quanto mais não seja», atualmente, parece ter mais ocorrências do que a forma «quando mais não seja», por isso, julgo que se pode afirmar que o uso mais frequente da primeira vem considerá-la, quando mais não seja, admissível.
1 Dicionário Houaiss; Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra; Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa; Gramática do Português, da Fundação Calouste Gulbenkian.
2 In Não Tropece na Língua: lições e curiosidades do português brasileiro, Instituto Euclides da Cunha, 1.ª ed., 2012.