«Memorandum»
a) Como adjectivo, significa: memorável, digno de ficar na memória, de ser lembrado.
b) Como substantivo, significa: livrinho de lembranças, onde tomamos nota do que precisamos de nos lembrar em determinado momento. É também aquela espécie de nota diplomática que uma nação envia a outra com a exposição resumida do estado de uma questão.
Deriva do verbo latino «memorare», lembrar, recordar.
O gerundivo deste verbo enuncia-se assim: memorandus, memoranda, memorandus (masc., fem. e neutro). Abreviadamente, escreve-se: memorandus, a, um. Este é o caso nominativo, o de sujeito.
Mas, como sabemos, o português não provém do nominativo, mas do acusativo – o caso do complemento directo: memorandum, memorandam, memorandum (masc., fem. e neutro).
O nosso memorando provém do acusativo neutro. E digo neutro porque aquilo que temos de nos lembrar não é masculino nem feminino em latim – é neutro: «memorandu(m)».
A pronúncia do m final era muito fraca; por isso, na passagem para a nossa língua, foi desaparecendo na pronúncia dos falantes: «memorandu(m)» > «memorandu» – (= memorando).
O plural desta forma neutra é «memoranda». Daqui, haver atrasadamente (e às vezes até mesmo agora) quem dissesse "os memoranda". É evidente que este plural não tem pés nem cabeça, porque o latim há muito que está aportuguesado em memorando. É, pois, ridículo empregar-se “memoranda” como plural do portuguesíssimo memorando.
Mais ainda: temos o português fórum, do latim «fórum». Haverá alguém que diga "os fora" (pronuncia-se fó-rà)?
Mesmo que o singular em português fosse «memorandum», como em latim, o plural nunca seria «memoranda», mas «memoranduns», porque os nossos substantivos terminados em –um fazem sempre o plural em –uns: atum, atuns; jejum, jejuns; e não só os substantivos: algum, alguns; comum, comuns, quer seja substantivo quer adjectivo; um, uns, etc.
Se alguma dúvida permanecer, cá estou ao seu dispor.