Um dos sinais da vitalidade das línguas naturais consiste na incorporação de estrangeirismos no seu léxico, isto é, vocábulos importados das línguas modernas. Esses vocábulos incorporam-se no léxico de uma dada língua de tal modo, que vão deixando de ser sentidos como tal, a dado momento. Lembremo-nos, por exemplo, da substituição do sobrescrito pelo envelope, da merenda pelo lanche ou da casa de pasto pelo restaurante. No entanto, a condição natural dos estrangeirismos é serem sentidos como tal, o que acontece com inúmeros exemplos, à semelhante do termo Internet, sugerido pelo consulente.
O modo como se devem grafar os estrangeirismos é um assunto recorrente, mas nem sempre consensual entre académicos e lexicógrafos, havendo soluções diferentes quanto ao registo deste tipo de vocábulos. Veja-se, a propósito, a divisão de opiniões suscitada por algumas propostas de aportuguesamento do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, concretamente em casos como "stande" ou "stresse" (confrontar textos antigos do Ciberdúvidas como "Stand", As dúvidas de um «sportinguista com status e stique»).
O consulente traz para esta discussão a questão da grafia do termo Internet, colocando duas hipóteses: (1) a adopção do termo "Inter-rede", que seria uma tradução directa do inglês "inter-net"; (2) o aportuguesamento do termo que passaria a ser escrito "Internete", para ir ao encontro da grafia portuguesa. Tendo presente que o termo de língua inglesa Internet, de acordo com determinadas fontes, é o resultado da expressão nominal mais longa «interconnexion net» e, de acordo com outras, é a contracção de «international net», e tendo em conta que é um termo de elevadíssima frequência| no uso oral e escrito da língua portuguesa, a aplicação de cada uma das soluções gráficas apontadas poderia ser discutida.
No entanto, não será de desprezar o facto de o termo Internet surgir registado em todos os dicionários de língua portuguesa de referência na sua forma de origem, opção que é adoptada para os vocábulos importados que atingiram um certo grau de generalização e de aceitação (Internet surge, assim, a par de design, jazz, workshop, copyright).