DÚVIDAS

Pontos-chaves

Obrigado pela interessante resposta dada à minha queixa sobro o abuso das chaves. Chave, chave, chave, (in Respostas Anteriores). Mas fiquei com uma dúvida. Dizem que se deve escrever pontos-chaves (e não -chave). Mas então não é este um caso de um composto "de dois substantivos ligados por hífen, denotando o segundo elemento uma noção complementar de fim..."? É que se assim for, então "só o primeiro elemento vai para o plural: escolas-modelo..." (citações: Prontuário Ortográfico, Ed. Notícias, 17ª edição, p.111).

Resposta

Em palavras compostas por justaposição do tipo desta, não se percebe que o elemento chave tenha "a noção complementar de fim". Mas que fim? Onde está a finalidade?

Suponhamos este exemplo:

Para conhecer e depois usar e ensinar a Língua Portuguesa, é preciso estar-se de posse destes quatro pontos-chaves, pelo menos:

a) Língua latina

b) Evolução da Língua Portuguesa

c) Conhecimento dos nossos escritores que melhor souberam usar a língua

d) Contacto da Língua Portuguesa com as outras línguas.

Nenhum destes quatro pontos implica a "noção complementar de fim". Não há neles nenhuma ideia de fim. O fim que se tem em vista é outro:

É o conhecimento da Língua Portuguesa. Estes quatro pontos são meios, e não fins, que temos à nossa disposição para atingir o fim.

E cada um desses quatro pontos é uma chave que nos abre a "porta", que abre e patenteia o caminho para conhecermos a nossa língua. Cada ponto é uma chave indispensável. Estamos, pois, na presença de quatro chaves. Sendo assim só é correcto o plural pontos-chaves. Cada ponto é uma chave, e cada chave é um ponto. E como este muitos casos encontramos na comunicação social.

O segundo elemento indica fim em compostos como os seguintes, e então só o primeiro se pluraliza:

a) Navio-escola = navio apretechado/construído/organizado/etc.para escola.

b) café-concerto = café (preparado) para concerto.

c) escola modelo = escola para modelo.

Cautela com os erros que se ensinam! Mas não minimizemos quem erra, porque não há estudo tão vasto como o da Língua Portuguesa, para nós e para os brasileiros. Mais coisas há para dizer, mas não sobrecarreguemos o Ciberdúvidas. De qualquer modo, caro consulente, cf. ainda o uso do hífen, in Respostas Anteriores.

N. E. (26/04/2016) – A posição do consultor não reúne consenso. O plural de compostos que incluem chave como segundo constituinte podem manter (ou tendem mesmo a manter) esta palavra no singular: ponto-chave/pontos-chave (Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa); palavra-chave/palavras-chaves, palavras-chave (Vocabulário Ortográfico do Português). No Dicionário Priberam da Língua Portuguesa classifica-se chave também como adjetivo invariável que pode fazer parte de compostos: «adjectivo de dois géneros e de dois números. 22. Que é essencial, muito importante (ex.: ele é o elemento chave do grupo). [Como adjectivo, pode ser ligado por hífen ao substantivo que qualifica (ex.: palavras-chave, conceito-chave).]». O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001) faz uma observação semelhante numa indicação de uso sobre chave: «a palavra chave colocada após um substantivo, ao qual se liga por hífen, é um determinante específico invariável e significa 'importante', 'decisivo' (idéia-chave, testemunhas-chave); 'estratégico' (posto-chave, lugares-chave) [...].»

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa