DÚVIDAS

Particípio presente

Com isto de "particípio presente" deparei, a primeira vez, em um programa de televisão, em que brevemente se comentou "ser algo que no latim havia".

Uma outra vez, foi quando, estudando a gramática inglesa, meio que às cegas e às apalpadelas, lá pelas tantas me aparece: "present participle and gerund".

Dito isso, aí vão as dúvidas:

1) Se a língua portuguesa originou-se, entre outras coisas, da latina e nesta, dizem, havia o "particípio presente", então onde ele está, no português atual?

2) Aquele "present participle and gerund" encontrado na língua inglesa, tem algo que ver com o "particípio presente" da latina, se é que nesta isso existia mesmo?

3) Que paralelos eu poderia traçar entre as línguas portuguesa e inglesa, os quais me facilitassem o aprendizado desta última, especificamente no que tange ao "present participle"?

4) Afinal, se o "particípio presente" era realmente "algo que no latim havia", o que significava este "algo", o que seria o "particípio presente", no latim? O que seria o "particípio presente", no português? E o que seria o "present participle", no inglês?

Peço desculpas, se estou abusando demais do Ciberdúvidas, mas apesar de inúmeras cartas enviadas àquele programa, nunca me deram resposta. Por favor, respondam-me o que lhes for possível.

Muito obrigado.

Resposta

1) No português actual, existem restos de particípios presentes, com valor de substantivos ou de adjectivos: homem temente a Deus; um grande viajante; cavaleiro-andante; uma pedinte; um transeunte, etc.

2) As designações inglesas baseiam-se nas diferenças de emprego que havia em latim entre o particípio presente (que era uma forma adjectiva), e o gerúndio (que na forma era um substantivo). Existia ainda o gerundivo (que era uma forma adjectiva) na língua latina. Em português, venerando (p. ex.) é um resto de gerundivo, e, tal como em latim, quer dizer «que deve ser venerado».

3) Em inglês o present participle é igual ao gerund, servindo o primeiro para a constituição da forma contínua ou progressiva dos verbos. Embora saindo da finalidade do Ciberdúvidas, esclareço que o gerúndio exprime quase sempre o fim, enquanto o particípio do presente ou activo é sempre um adjectivo e concorda com um substantivo, e, se for de significação transitiva, pede complemento directo. O present participle também se usa em vez de uma oração relativa. O gerund emprega-se para exprimir a simultaneidade de duas acções numa oração única, e ainda às vezes com a função de particípio absoluto, omitindo-se o auxiliar e o sujeito.

O particípio presente do latim equivalia igualmente a uma oração relativa, e este valor vê-se ainda no português: temente = que teme; viajante = que viaja; amante = que ama. Era declinável no singular e no plural, enquanto o gerúndio só o era no singular: amandi = de amar; laudando = louvando, para louvar; timendum = (para) temer. O gerúndio funcionava, portanto, como declinação do infinitivo: amare = amar; amandi = de amar; etc. Em português o gerúndio não se deve confundir com o particípio presente; por isso é errado dizer «dicionário contendo tantas palavras» (o correcto é: «que contém»). O nosso gerúndio exprime, sim, diversos complementos circunstanciais: fazendo = ao fazer, quando fazia, por causa de fazer, etc.

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