Podemos dizer que o parágrafo é um sinal de separação, tal como o ponto final e outros.
Pode ter um ou mais períodos, porque ele pode transmitir um ou mais pensamentos que formam uma unidade que faz parte dum todo, que pode ser, por exemplo, um capítulo duma obra, uma carta, um conto, uma anedota, etc.
O parágrafo marca uma separaçãozinha de ideias mais complexas do que o ponto final.
Não há regras estabelecidas para formar parágrafo. Isso fica, até certo ponto, ao critério e ao gosto de quem escreve, a não ser, por exemplo, na redacção de decretos e leis, em que os parágrafos são demarcados de acordo com o próprio assunto:
Assim, um parágrafo pode ser um período ou um encadeamento de períodos com uma sequência lógica de pensamentos, todos eles mais ou menos subordinados a um pensamento fundamental.
Para mais clareza, transcrevo o que dizem J. M. Neves de Figueiredo e A . Gomes Ferreira no seu «Compêndio de Gramática Portuguesa» em edição da Porto Editora e outras, em 1945, no capítulo I, intitulado «O texto e as Suas divisões», pgs. 29 e 30:
«Vamos ler o seguinte texto:
A Lua crescia, a sombra leitosa crescia, as estrelas foram esmorecendo naquela brancura que enchia a noite. Uma, duas, três, agora havia poucas estrelas no céu. Ali perto, a nuvem escurecia o morro.
A fazenda renasceria – e ele, Fabiano, seria o vaqueiro, para bem dizer seria o dono daquele mundo.
Os troços minguados ajuntavam-se no chão: a espingarda de pederneira, o aió, a cula de água e o báu de folha pintada. A fogueira estalava. O preá chiava em cima das brasas.
Uma ressurreição. As cores da saúde voltariam à cara triste da sinhá Vitória. Os meninos se espojariam na terra fofa do chiqueiro das cabras. Chocalhos tilintariam pelos arredores. A catinga ficaria verde.
Baleia agitava o rabo, olhando as brasas. E, como não podia ocupar-se daquelas coisas, esperava com paciência a hora de mastigar os ossos. Depois iria dormir.
(Graciliano Ramos, in «Vidas Secas», bras.)
«Neste texto, o autor pretende mostrar o contraste entre o sonhar de um homem e a miserável realidade, isto é, a trágica situação de quem, apesar de tudo, ainda teima em sonhar.
«Esta é a ideia geral expressa segundo um plano de que o autor naturalmente não teve consciência e que nós procuramos para apreender melhor o conteúdo.
Partes do Plano
«O plano (1) consta, assim, de várias partes, tantas quantas foram necessárias para a complexa expressão da ideia central. No texto transcrito, são cinco as partes que podemos distinguir, embora pertençam a um todo contínuo:
1) Localização no tempo e no lugar.
2) O homem, entretanto, sonha com uma possível felicidade.
3) No chão, há uma espingarda e objectos que são indício de pobreza.
4) Novamente, o sonhar acordado.
5) E, por fim, a simpática e humilde consciência da cadela que é talvez a imagem daquilo a que terá de reduzir-se o homem que sonha.
Parágrafos
«Relendo o texto, verifica-se que o autor nos obriga, de vez em quando, a uma pausa mais longa, abrindo parágrafo, isto é, continuando a sua narração na linha seguinte, que aparece recuada em relação às outras. O parágrafo não corresponde necessariamente a uma parte do texto, embora isso possa acontecer. Quer dizer: uma parte pode constar de um ou mais parágrafos.»
Parece-me também útil transcrever o que diz Enéas Martins de Barros na sua «Nova Gramática de Língua Portuguesa», São Paulo, Brasil, Editora Atlas S.A., 1982, pág. 77:
Parágrafo
«Tratamos aqui, em separado, do parágrafo, visando a demonstrar-lhe a importância, já que essa notação não se limita, como a vírgula e o ponto final etc., a marcar pausas ou inflexões entoativas, mas os diversos passos de uma composição, separando-os, é verdade, e permitindo-lhes a gradualidade e denunciando a sucessão das ideias em torno de um assunto único. Divide, assim, o texto em segmentos que carregam em si os diversos enfoques do tema geral.
«Embora o assunto numa redação seja o mesmo em todo o seu desenvolvimento, seus diversos enfoques ou argumentos se organizam em parágrafos. Assim, a cada nova abordagem, a cada novo enfoque há de corresponder um parágrafo, marcado pela “mudança de linha”, como se diz na linguagem escolar.
«Da compreensão do parágrafo e seu uso com propriedade depende muitas vezes a compreensão total do contexto.
«Compreende o parágrafo os seguintes passos:
Tópico frasal: que é a idéia central inserida num parágrafo.
Segmentos do parágrafo: são os demais parágrafos, contendo cada um nova idéia, nova visão do tema e a este relacionada. São eles que contêm os argumentos, as diversas informações relativas ao tema, ao núcleo. Essas informações secundárias não constituem parágrafo, mas vêm separadas pelo chamado ponto final, o que não os obriga a mudar de linha.
Resumo: é o parágrafo conclusivo, nem sempre presente à redação.
Relacionador ou encadeador, por vezes, é o segundo parágrafo e tem por objetivo estabelecer ligação lógica entre um parágrafo e seu antecedente.»