Na resposta que dei, falta uma palavra na primeira frase, do que peço desculpa. Eis a frase completa:
De facto, parece que podemos dizer que, logicamente, a frase está errada. Errada, segundo a lógica do pensamento, claro.
Mas uma coisa é a lógica do pensamento, outra coisa é a lógica da língua. Há, por isso, muitos modos de dizer, inteiramente aceitáveis, mas aos quais falta a lógica do pensamento. São muito vulgares aqueles em que vemos o ilógico adjectivo ou o ilógico particípio passado. Alguns exemplos:
(1) Ensino infantil. – O que é infantil não é o ensino, mas a criança que o recebe.
(2) Desejo-te um feliz Natal. – Não desejamos a felicidade do Natal, mas a da pessoa.
(3) Trabalhos forçados. – É forçada a pessoa e não os trabalhos.
(4) Entre as duas cidades há uma via rápida. – A viagem é que é rápida, e não a via.
Exemplos com várias formas verbais:
(5) Fiz uma operação ao estômago.
(6) Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança. – Então o cabo ficou com outro formato.
(7) Vou tomar o comboio. – É o contrário: o comboio é que me toma.
Exemplos com substantivos:
(8) A sentença absolveu o arguido. Quem absolveu não foi a sentença, mas quem a deu.
(9) Fulano não compareceu por motivo de saúde. Não foi de saúde, foi de doença.
Também a linguagem corrente, a do tipo da frase: Tarefas difíceis de fazer.
Mas estaremos aqui, de facto, em presença do infinitivo pessoal em sentido passivo. A explicação pode ser outra. Em Portugal, e julgo que no Brasil, ouvem-se frases como esta: São tarefas difíceis de eu fazer.
Conjuguemos, então, esta frase:
São tarefas difíceis de eu fazer.
São tarefas difíceis de tu fazeres.
São tarefas difíceis de ele fazer.
São tarefas difíceis de nós fazermos.
São tarefas difíceis de vós fazerdes.
São tarefas difíceis de eles fazerem.
São tarefas difíceis de a gente fazer.
Em todas estas frases, podemos omitir o sujeito, excepto nas frases da 1.ª e da 3.ª pessoa do singular.
Em muitas e muitas situações, não mencionamos a entidade fazedora, e então diremos a última frase:
(a) São tarefas difíceis de a gente fazer.
Se omitimos o sujeito, diremos então:
(b) São tarefas difíceis de fazer.
Pergunto agora o seguinte: quando proferimos a frase (b), temos a visualização das tarefas que estão (ou estarão) a ser feitas (voz passiva) por determinada pessoa, ou a visualização de determinada pessoa que está (ou estará) a fazer (voz activa) as tarefas?
Penso que temos a segunda visualização. Se assim for, na frase (b), não temos o infinitivo com sentido passivo, mas sim activo.
Na minha resposta a António Domingues, a que me faltou a palavra «logicamente», procurei ser breve não só para apresentar a frase que me pareceu mais correcta, mas também para evitar este ou então palavreado enfadonho.
Seja como for, estou muito agradecido ao nosso consulente Bueno pelas suas observações.