A palavra abracadabra terá começado a ser usada em português no século XVIII, segundo o Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, de António Geraldo da Cunha. José Pedro Machado, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, inclui uma atestação da palavra, retirada de Manuel Gomes de Lima, Memória Cronológica para a História da Cirurgia, cuja edição é de 1779. Fica-se, porém, sem saber se esta é a primeira vez que a palavra surge escrita em português. Em Alice Póvoa et aliae, As Faces Secretas das Palavras (Porto, Edições ASA, 2005) aceita-se que a palavra tenha surgido apenas no século XVIII, mais tarde, portanto, que as atestações de abracadabra em inglês e francês (ver mais abaixo). Outras obras consultadas nada adiantam quanto à datação desta palavra.
Já agora, deixa-se o comentário sobre a etimologia de abracadabra que se encontra no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (desenvolvi as abreviaturas; itálicos do original a negro):
«lat[im] abracadabra (indeclinável) 'palavra cabalística que metiam em um amuleto, na crença de que tinha a virtude de curar certas enfermidades', do gr[ego] abracadabra, de orig. duv[idosa]; Nascentes parte do gr[ego] e afirma que o -s- (sigma) foi lido como -k-; J[osé Pedro] M[achado] e outros autores acreditam que haja uma ligação entre as palavras mágicas abracadabra e abraxas […]; há quem relacione a orig[em] da expr[essão] mágica ao hebr[aico] arba-dak-arba lit[eralmente] 'que o quatro aniquile o quatro', o que simbolizaria 'Deus (o quatro seria o criptograma que representaria o todo-poderoso) vence, domina os quatro elementos', o simbólico da palavra, disposta em um triângulo, e a sua explicação conforme os costumes da gnose revelariam a sua virtude: a de proteção contra as doenças; J[osé Pedro] M[achado] cita ainda uma outra possibilidade: hebr[aico] hab,rákáh 'abençoado, nome sagrado', que intitulava um deus gnóstico e levanta a hipótese de que -dabra talvez corresponda ao hebr[aico] dábár 'palavra'; de comprovado só se tem, contudo, o primeiro registro do voc. em poema de Sereno Samônico (Serenus Samonicus), s[éculo] III; o fr[ancês] e o ing[lês] abracadabra datam, respectivamente, de 1560 e de 1565.»
Alice Póvoa et aliae (op.cit.) completam esta informação:
«[...]sobretudo na Idade Média, a esta palavra cabalística era atribuído o poder mágico de curar ou de evitar certas doenças. Para beneficiar dessa propriedade, bastava utilizar ao pescoço um amuleto em forma de triângulo invertido, no qual a palavra era gravada repetidamente, de modo a que pudesse ser lida em vários sentidos. As gravações tinham duas variantes: ou eram feitas em onze linhas, com uma letra a menos em cada uma delas (na primeira linha, escrevia-se a palavra completa; na segunda, retirava-se a primeira ou a última letra, e assim sucessivamente, restando, na décima primeira linha, apenas a letra A); ou em seis linhas, suprimindo-se em cada linha uma letra de cada extremo (a primeira linha continha o vocábulo inteiro e a sexta apenas a letra central, o A) [...]. O termo abracadabra acabou por designar o próprio amuleto.»