De facto, já respondi acerca da expressão "pois não". É certo que não me referi à origem de "pois não", nem tinha obrigação, absolutamente nenhuma, de me referir a isso, porque a pessoa que consultou não perguntou isso. Vou então responder. Suponhamos o seguinte diálogo:
– Olha lá, ó João, venho-te pedir um favor.
– Ora diz lá.– Vou comprar um automóvel mas não tenho dinheiro que chegue. Estás disposto a emprestar-me o que me falta? – Empresto, pois não havia de emprestar?
Este "pois não", etc. é um modo de condenar a sua acção de não emprestar. É como se dissesse:
– Claro! Então, não estás mesmo a ver que empresto? É, sim, uma expressão cordial.
Ele responde assim, porque são dois amigos que se estimam, confiantes um no outro e sempre prontos a ajudarem-se.
São vulgaríssimas expressões como aquela: "pois não havia de emprestar?". Isto é, ... de emprestar / fazer / comer / ir, ou qualquer outro infinitivo, que se pronunciam encurtadas.
Dizemos, pois, que a expressão "pois não", tanto brasileira como portuguesa, resulta do encurtamento da expressão "pois não havia de" – infinitivo.
Há muitas expressões e palavras resultantes de encurtamento. Alguns exemplos:
Nada que agradecer, encurtamento de: Não tem nada que agradecer.
Muito obrigado, encurtamento de: Estou-lhe/fico-lhe muito obrigado.
Mota, encurtamento de motocicleta.
Eléctrico, de carro eléctrico.
Faça favor, encurtamento do que se diz em diálogos como o seguinte:
– Dá-me licença que passe?
– Faça favor. É encurtamento de: Faça favor de passar.
Há em Lisboa um jardim, cujo nome é Jardim Zoológico. Também se emprega o encurtamento Zoo: O Zoo de Lisboa é muito belo e útil.