A questão colocada sobre a classificação da oração é aparentemente simples.
Quando se lê a frase «Falei o que querias» e se pensa na classificação da segunda oração, a resposta surge quase que automaticamente como subordinada substantiva (denominada integrante na antiga terminologia) – pois partimos do princípio de que a segunda oração completa o sentido da subordinante, contendo elementos essenciais à frase – objectiva
directa, uma vez que exerce a função de objecto directo.
Como disse (e bem!), quem fala, fala alguma coisa, argumento segundo o qual essa frase deveria ser dividida da seguinte forma:
1.ª oração – «Falei» – subordinante
2.ª oração – «o que querias» – subordinada substantiva objectiva directa [objecto directo]
No entanto, e apesar de compreender a lógica dessa divisão e respectiva classificação, penso que esta frase pode ter uma outra divisão, se tivermos em conta que o complemento/objecto directo está representado pelo pronome demonstrativo o
(= aquilo). Assim, a divisão seria:
1.ª oração – «Falei o» [= aquilo – complemento/objecto directo]
2.ª oração – «que querias» – oração subordinada adjectiva.
Assim sendo, «que querias» «funciona como adjunto adnominal do pronome o, objecto directo» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Ed. Sá da Costa, 2002, p. 599) de «Falei».
De facto, esta oração subordinada adjectiva, como adjunto nominal, depende de um termo da oração subordinante, cujo núcleo é um pronome [objecto directo].
Celso Cunha e Lindley Cintra apresentam-nos o seguinte exemplo para este tipo de frase: «Iria remediar o que pudesse», esclarecendo que a oração subordinada «adjectiva – que pudesse – está funcionando como adjunto adnominal do pronome o, objecto directo de iria remediar.»
Espero que esta resposta a tenha ajudado a esclarecer algumas dúvidas…