O verbo pedir, que constitui a oração principal1, é empregado como transitivo direto. Logo, exige um complemento direto, o qual vem em forma de oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo: «orientar o aluno a tirar a dúvida».
Essa frase, com o desenvolvimento da oração reduzida, fica assim: «Peço que orientem o aluno a tirar a dúvida com a diretora.»
Por sua vez, o verbo orientar (contextualmente transitivo direto e indireto, tal qual nortear, guiar, conduzir) exige dois complementos: um direto (o aluno) e um indireto oracional (a tirar a dúvida com a diretora).
Assim, não há necessidade de haver um para ou outro termo após o verbo, pois a frase respeita a sintaxe da língua portuguesa2.
Sempre às ordens!
1 Visto que a consulente é do Brasil, foi empregada, para fins didáticos, o suporte teórico e a nomenclatura brasileira da gramática tradicional.
2 A construção gramatical trazida pelo consulente, sem a preposição para, é existente na língua e, portanto, gramatical, apesar da falta de registro em gramáticas e dicionários. Pedir + oração reduzida (com função de complemento direto) é uma construção sintática muito menos usual do que pedir + oração desenvolvida (com função de complemento direto). Eis alguns exemplos reais deste uso, colhidos no Corpus do Português, em linguagens literária e não literária, os quais percorrem os séculos XIX, XX e XXI:
(1) «Por aqui já se PEDE AVALIAR o exemplo de civilização que era a Ilha das Duas Casas, rodeada de cidade por todos os lados. Pérola serena, bandeirinha na imensidão, eis o que ela lembrava."» (José Cardoso Pires, 1999, A República dos Corvos)
Equivale à oração desenvolvida «Por aqui já se PEDE QUE SE AVALIE (ou QUE AVALIEM) o exemplo...»
(2) «Antônio dirigiu-se à loja do negociante Bebé, PEDINDO-LHE TROCAR em miúdos a cédula.» (Lindolfo Rocha, 1980, Maria Dusá)
Equivale à oração desenvolvida «... PEDINDO-LHE QUE TROCASSE em miúdos a cédula».
(3) «Que o mandassem sôzinho e sem defesa à toca da onça; dessem-lhe uma pajeú para decepar a própria mão; PEDISSEM-LHE VAZAR os olhos com espinho de mandacaru, e o sobrosso seria menor.» (Orlando Geraldo Rego de Carvalho, 1971, Somos todos inocentes)
Equivale à oração desenvolvida «... PEDISSEM-LHE QUE VAZASSEM os olhos...».
(4) «... finalmente, como cheguei a fazer algumas quadras, PEDIAM-ME RECITAR sonetos em dias de anos, e assim introduziram-me em mil reuniões...» (Joaquim Manuel de Macedo, 1844, A Moreninha)
Equivale à oração desenvolvida «... PEDIAM-ME QUE RECITASSE sonetos...»
(5) «Esconde o mais que puderes a tua necessidade; ela só por si é o pior estorvo que se PEDE LEVANTAR defronte de ti, quando precisares de dinheiro.» (Aluísio Azevedo, 1890, O Coruja)
Equivale à oração desenvolvida «... que se PEDE QUE SE LEVANTE defronte de ti...».
(6) «Era Almansor o emir dos Muçulmanos, Que, fugindo ao refúgio que buscara, Vem entregar-se às mãos do Castelhano, A quem só PEDE CONSERVAR a vida.» (Machado de Assis, 1864, Crisálidas)
Equivale à oração desenvolvida «... só PEDE QUE SE CONSERVE a vida...».
(7) «Ontem, ao voltarmos para casa, soubemos da visita que nos fizeste com tua estimável senhora, a quem PEÇO APRESENTAR os meus respeitos.» (Machado de Assis, Epistolário)
Equivale à oração desenvolvida «... a quem PEÇO QUE SE APRESENTEM os meus respeitos».
(8) «O governo do bispado deram-no a Paio Guterres, que de joelhos e com muitas lágrimas PEDIU SER escusado.» (Almeida Garrett, 1845-1850, O Arco de Sant'Ana)
Equivale à oração desenvolvida «... PEDIU QUE FOSSE escusado».
(9) «Os motoristas da Uber ou da Cabify não poderão apanhar clientes que lhes PEÇAM PARAR na rua (só podem ir buscar quem os chama através da aplicação)...» (RTP, 2016)
Equivale à oração desenvolvida «... lhes PEÇAM QUE PAREM na rua...».
(10.) «No entanto, em nenhum dos dois casos existe cláusula de rescisão, o que dificulta as suas transferências para a capital espanhola. E se o plano A e o B se mostram difíceis, então Florentino PEDE AVANÇAR para o plano C... com Eden Hazard.» (Record, 2018)
Equivale à oração desenvolvida «... Florentino PEDE QUE SE AVANCE para o plano C...».
(11) «Nessa informação, a entidade que rege os campeonatos profissionais em Portugal solicitou esclarecimentos à Santa Casa da Misericórdia, que tutela o jogo de apostas conhecido por 'Placard', PEDINDO SER informada dos procedimentos em curso, e reiterou "confiança absoluta" nos clubes, respetivas SAD e agentes desportivos.» (O Jogo, 2017)
Equivale à oração desenvolvida «... PEDINDO QUE FOSSE informada...».
(12) «"Perante este trágico acontecimento que causou o luto e a dor ao povo grego, cumpre-me, em nome do Governo angolano e no meu Próprio, apresentar a Vossa Excelência, ao Povo e ao Governo grego os nossos sentidos pêsames e expressão de solidariedade, que PEÇO FAZER presente às famílias enlutadas", termina a nota.» (Observador, 2018)
Equivale à oração desenvolvida «... que PEÇO QUE SE FAÇA presente...».
Evidencia-se, assim, não haver a necessidade do uso de para na construção sintática para que ela seja gramatical, uma vez que (apesar de pouco usual) existe na língua a forma oracional reduzida com função de complemento direto do verbo pedir, como demonstrado pelos exemplos acima.