Ainda que não perceba bem o que a leitora identifica com a expressão «fenómeno da aproximação», em linguística, passo a responder atendo-me, exclusivamente, à sua questão sobre uso e significado das expressões mencionadas. Tomei cada expressão em separado e faço uma consideração posterior.
Um género de – Tem, aparentemente, dois usos frequentes com significados ligeiramente diferentes nos itens que precede:
1. equivale a um tipo de sendo seguido de itens lexicais cujos referentes são de natureza variada, tais como: buscas, polémicas, romance, livro, peça, música, perguntas, certames, algazarra, tecido, comida, etc.
2. equivale à expressão estilo de sendo seguido de nomes de pessoas, escolas artísticas, etc., com os seguintes possíveis exemplos:
«No género de Thelonious Monk: quando toca piano improvisa muito, mas é sempre possível dizer que a melodia é modelada.»
«Segue-se uma galeria de espiões apropriadamente vestidos – uns mais no género de James Bond (o agente de espionagem britânico), outros de gabardina e óculos escuros.»
«Um género de Art-Déco.»
Uma espécie de, uma sorte de, um tipo de – Esses três itens são usados indistintamente, ou seja, não parecem sofrer restrições de selecção lexical e pertencem, aparentemente, a um registo mais informal, ou melhor, transitam entre o registo mais informal da modalidade oral e o registo mais formal da modalidade escrita, sendo encontrados em ambos mas com frequências distintas. Dos três, o que poderia ver-se atribuir uma característica de “hiperónimo” seria um tipo de, que, seguido por qualquer nome, tem a mesma aceitabilidade e frequência, o que nem sempre acontece com os dois outros. Na modalidade escrita, porém, essa última expressão é bem menos frequente do que a anterior um género de.
Uma classe de – Implica a existência de um grupo de “indivíduos”, assim, não ocorre seguido por itens lexicais que designam uma substância, como seda. Parece, porém, aceitar bem um nome mais geral como tecido, que pode ser atribuído a uma variedade de “indivíduos”. Alguns exemplos são: «uma classe de novos-ricos, de reabastecedores, de sargentos, de moléculas, de consumidores,»
Uma forma de – A expressão é, em geral, seguida de um nome que representa o produto de uma elaboração concreta ou abstracta, como: movimento, compensação, governação, protesto, expressão, consagração, companheirismo, prevenção. Não há a ocorrência de nomes concretos como livro, seda, ainda que se encontre a ocorrência de cancro, mas está relacionada ao processo patológico. Sendo assim, parece ser aceitável uma forma de tristeza (o resultado de ficar triste), mas não «uma forma de seda».
Voltando ao registo de língua em que ocorrem as referidas expressões, um género de apresenta-se bastante mais frequente na modalidade escrita em padrão culto, próprio de publicações de informação, já que foram levantadas ocorrências em jornais de grande circulação tanto na região metropolitana de São Paulo (Folha de São Paulo) como em Portugal (O Público).1 A expressão uma sorte de tem emprego bastante raro, sendo encontradas apenas 4 ocorrências no mesmo ‘corpus’ em que foram encontradas 1462 ocorrências da expressão anterior. Finalmente, conforme a pergunta da leitora, considero que, na língua familiar, bem como em um registo formal, os três primeiros exemplos são aceitáveis, já os dois últimos devem ser analisados conforme as observações acima.
1A título de referência, os ‘corpora’ onde foram realizadas as buscas de frequência e as concordâncias que serviram de base para os comentários encontram-se em www.linguateca.pt.