No Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, não é “carmoiço” a forma atestada, mas, sim, as seguintes variantes: caramoiço, cramoiço, caramouço, caramoço, comoroço, comoroiço e comorouço. É no verbete que reúne comoroço, comoroiço e comorouço que se encontram as acepções desta palavra: «pequena elevação, pequeno cômoro; montículo» e «montão, morouço, efeito de encomoroçar».1 Segundo Machado, as variantes em “comor-” derivam de cômoro, «pequena elevação isolada de terreno». Julgo que as outras variantes (em “caram-”, “cram-”, e “carm-”) constituem alterações da forma de base “comor-”. Qual a melhor grafia para estas variantes com a no radical? Encontro no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves, as formas cramouço e cramoiço, mas sem indicação do seu sentido. Se estas formas designam o mesmo que as outras em o (comor-, etc.), então “carmouço” terá de ser vista como variante gráfica (e fonética) de cramouço/cramoiço. De qualquer modo, como estamos a falar de termos regionais, muito marcados pela variação dialectal, é difícil estabelecer a grafia mais adequada. O que se pode dizer, em suma, é que, no âmbito da ortografia vigente em Portugal, se privilegiam as formas cramouço/cramoiço, não se encontrando grafada a variante “carmoiço” nos dicionários consultados. 1Morouço significa «rumo, acervo, montão, montículo» e tem as variantes moroiço, mourouço, moiroço, moiroiço e morouxo, esta última usada na região do Douro, em Portugal (Machado, op. cit.). É curioso verificar que Machado usa encomoroçar numa das acepções de comorouço, mas não lhe atribui qualquer artigo (idem). Foi em Cândido de Figueiredo, no Novo Dicionário da Língua Portuguesa (3.ª edição), que pude achar, por um lado, encomoroçar e encomoroiçar, «pôr em cômoro, pôr alto, amontoar», e, por outro, encramoiçar, «juntar em cramoiços, acumular». As formas registadas por Cândido de Figueiredo mantêm, pois, a variação entre as bases comoroç- e cramouç-/cramoiç-.