A sua questão é muito interessante e tem que ver com uma das mudanças da língua portuguesa que estão a verificar-se no Brasil: a perda progressiva do caso nos pronomes pessoais átonos. Recorda-se que o caso é um dos processos de flexão nominal do latim, associado à função que a palavra exerce na frase e que, no português, só é visível nos pronomes pessoais átonos. Assim o é acusativo e desempenha a função de complemento directo, enquanto lhe é dativo (também pode ser ablativo, se antecedido de preposição) e desempenha a função de complemento indirecto. Ora acontece que, no Brasil, a grande maioria dos falantes já não utiliza o pronome o. Por exemplo, em vez de se dizer «Ontem o vi na rua», diz-se «Ontem vi ele na rua», ou «Ontem lhe vi na rua».
O desaparecimento do pronome o, provocado pela perda de sensibilidade ao caso que ele veicula, implica que a posição que ele ocuparia seja preenchida por outro pronome pessoal. Como se trata de uma alteração que está a ocorrer neste momento, verificam-se posições alternativas. O fa(c)to de os falantes ocuparem a posição com o pronome na forma dativa, lhe, pode ilustrar, por um lado, a perda do sentido dativo, correspondente ao complemento indirecto, por outro lado, a noção de que aquela posição é diferente da que deverá ser ocupada pelo sujeito.
Repare que, em vez de «Se o futuro do seu filho "lhe" preocupa...», poderia ter «Se o futuro do seu filho preocupa você...»
O problema não está, pois, na regência do verbo preocupar. Não é essa que está a mudar. É, sim, o pronome. Se o consulente estiver atento, verá que os seus compatriotas usam muito pouco o pronome o, substituindo-o por ele ou por lhe. Esta possibilidade de alternância só se verifica, creio, quando se trata da 3.ª pessoa, pois, quando se trata da 2.ª, o que se utiliza é mesmo (não poderia ser de outro modo…) lhe. Assim, neste momento, a frase descontextualizada «Ontem lhe vi no cinema» tanto pode corresponder a uma situação em que duas pessoas falam de uma terceira, como a outra, em que uma pessoa se refere directamente ao seu interlocutor.