O cansaço de Álvaro de Campos é um tema recorrente da sua poesia numa fase dita «intimista», em que expõe de modo perturbador, muitas vezes dilacerante, tudo o que lhe falhou na vida.
Este é um dos poemas que reitera a sua condição de intranquilidade, inquietação, frustração, desilusão, tédio. O cansaço é assumido como coisa em si mesma, alimenta-se do próprio cansaço, ecoa no labirinto do "eu", gritando-lhe o desapontamento que é a sua vida, ao contrário dos "outros" que encontram um motivo, mesmo reles, para viver. Temos, pois, um sujeito poético em contramão, seguindo opostamente ao resto do mundo, um "eu" marginal que nunca encontrará lugar no grupo.
Vejamos a estrofe em análise:
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Campos lista «essas coisas todas» que os "outros" ambicionam - as sensações, as paixões, os amores - e mostra que todas elas falham em significado: «inúteis», «violentas» e «intensos por o suposto em alguém», isto é, por aquilo que se supõe que o outro tem. Mas é uma suposição, uma ideia apenas, não é a realidade.
O verso «Essas e o que falta nelas eternamente —» exibe aquilo que é característico em Álvaro de Campos: «sentir tudo de todas as maneiras», ou seja, essas coisas e o que elas não são, o que têm e não têm, contrariamente. Portanto, o cansaço é triplamente intenso (são três as "coisas") e fá-lo gradualmente perder o ânimo: repare-se nos três últimos versos que se vão reduzindo drasticamente nas palavras, como se fosse perdendo o fôlego, a pouco e pouco.