Em princípio, a forma Deborah é inglesa e tem acento tónico na primeira sílaba [soa "déb(e)ra", com um e muito breve entre o b e r]. Em hebraico bíblico, a informação a que tenho acesso (pelo sítio de língua inglesa Behind the Name) é que o nome tem a forma דְּבוֹרָה, cuja transliteração latina é devorah. Sobre o acento tónico, sabendo-se que, em hebraico bíblico, recai geralmente na penúltima sílaba, é de supor que este nome não seja exceção, mais a mais que noutra forma em caracteres latinos do nome hebraico ocorre a supressão (síncope) da vogal pré-tónica da primeira sílaba: dvorah.
Penso que também interessará ao consulente saber que Débora já teve a forma Deborah, antes das reformas ortográficas do português na primeira metade do século XX. É possível que essa forma terminada em -h se pronunciasse com acento tónico na última sílaba ("Deborá") e que certos falantes contemporâneos ainda assim a pronunciem quando se deparam com ela, à semelhança do já aconteceu com o nome de origem hebraica Sara. Este tinha uma variante, Sarah, que muitos falantes acentuavam na última sílaba, conforme assinalava Gonçalves Viana, na Ortografia Nacional (Lisboa, Livraria Editora Viúva Tavares Cardoso, 1904, pág. 67):
«[a ocorrência de h é] mero erro de interpretação, como quando é final, em Sarah, por exemplo, que, em virtude desse h inutilmente acrescentado, passa a ser erróneamente lido como Sará, em vez da acentuação correcta Sára.»
Refira-se também que outro nome bíblico, Dinora, se escrevia com -h final (Dinorah) e tinha duas acentuações (esdrúxula e aguda, isto é, proparoxíotna e oxítona, respetivamente); passou depois a Dinora (paroxítona), mas admitindo a variante Dinorá (cf. Rebelo Gonçalves, Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, 1947, pág. 12, n. 2).
Finalmente, diga-se que a origem da acentuação da forma portuguesa Débora é assunto controverso. Não parece dever a sua acentuação à forma inglesa, antes se afigurando mais plausível que se relacione com a adaptação latina, Dēbŏra, que tem acento tónica na sílaba Dē-. No entanto, José Pedro Machado, no seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, dá conta de alguma controvérsia à volta deste nome:
«O Voc[abulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves] seguindo Gonçalves Viana, Consiglieri Pedroso e Augusto Moreno [...] preconiza a acentuação grave, que não tem qualquer uso, nem em Portugal, nem no Brasil. Afirmam que essa é a acentuação em hebraico; talvez seja, até acredito, mas não que tivéssemos recebido este antr[opónimo] directamente desse idioma. Circunstância óbvia em que, segundo parece, ninguém pensou. O voc[ábulo], se nos chegou do lat[im] é Débora (em Juízes, V, 1, 7, 12, 15, etc.), se por intermédio do la[im] Déborah, isto é: no primeiro caso é uma forma esdrúxula; no segundo aguda. Acontece que em Portugal e no Brasil é mais corrente Débora, pelo que é esta a aqui preferida. [...].»
Por outras, não excluindo a transmissão latina, José Pedro Machado parece achar também possível que Débora deve a sua acentuação proparoxítona a um erro de leitura do francês, o qual consistiu em adaptar a forma francesa, tomando o acento à portuguesa, isto é, como marca de acento tónico, e não como sinal indicativo do timbre da vogal (por exemplo, o acento da palavra francesa étage, «andar», marca não o acento tónico, mas, sim, o timbre da vogal).