Eu interpreto a frase da mesma forma que a consulente e considero a sua construção correcta. Assinalo, no entanto, a originalidade desta estrutura em que surge um complemento/objecto indirecto fora do comum em diversos aspectos.
Antes de mais, o pronome te corresponde a um complemento/objecto indirecto, pois pode ser substituído por lhe: «Não lhe merecia isto.»
Mas também é um facto que a frase pode ser «Não merecia isto de ti», o que faz com que estejamos em presença de um complemento/objecto indirecto introduzido pela preposição de! Habitualmente, este complemento é introduzido pela preposição a: «O João comprou um bolo à Maria». Pode também surgir com para: «O João comprou um bolo para a Maria». Mais raramente, e creio que sobretudo no Brasil, ocorre introduzido por em: «O João deu um beijo na Maria».
A par desta construção original surge igualmente uma interpretação semântica pouco habitual. Normalmente o complemento/objecto indirecto designa uma entidade que vai beneficiar – de forma concreta ou abstracta – da acção do sujeito. Ora esta leitura semântica não parece estar presente na frase em análise. A questão que se pode colocar é a de saber que características específicas tem o verbo merecer que permitem esta situação e que merecem um estudo mais apurado, conducente à plena compreensão desta estrutura. Salvaguardo a possibilidade de existirem já estudos dedicados a este assunto e que me sejam desconhecidos.