DÚVIDAS

Manutibilidade

Venho por este meio pedir ajuda, agradecendo desde já a sua amabilidade.

Apesar de ter lido os vários esclarecimentos do Ciberdúvidas, peço desculpa mais uma vez por incomodar, mas continuo com várias dúvidas.

Sou aluno da licenciatura em engenharia mecânica do ISEL e na vida profissional estou ligado à manutenção da CP.

A norma EN NP 50126 – Aplicações ferroviárias – Especificação e demonstração de Fiabilidade, Disponibilidade, Manutibilidade e Segurança (RAMS), nesta norma foi em Março de 2003 publicada uma errata com o seguinte conteúdo:

«Onde se lê "manutibilidade" deve ler-se "manutenibilidade"»

Pergunto:

Qual o termo que devo utilizar?
Qual a diferença entre os dois?
Qual é o mais correcto?
Qual é a explicação técnica para a mudança? Consultei alguma literatura em Portugal (livros inclusive), até ‘sites’ de universidades com mestrados nessa área e que usam exclusivamente o termo manutibilidade.

Muito obrigado.

Resposta

Para justificar o meu ponto de vista, proponho que comecemos por analisar, como exemplo, o que se passa com a família de palavras relacionadas com execução.

Execução: acto ou efeito de executar.
Exequível (ou executável): que se pode executar.
Exequibilidade: qualidade do que é exequível (o sufixo -(i)dade a transformar o adjectivo em substantivo e o elemento -vel a regressar ao elemento culto bil).

Apliquemos o mesmo raciocínio a manutenção:

Manutenção (ou manutenência): acto ou efeito de manter.
Manutenível: passível de ser mantido.

A qualidade que se atribui ao que é/foi/será passível de ser mantido (ter manutenção) não está ainda dicionarizada; mas, nesta lógica de raciocínio, será:

Manutenibilidade.
Raciocinando de outro modo, temos:
Segundo José Pedro Machado, manutenível é a forma culta do latim `manu tenere´ (segurar com a mão), na qual a sucessão en está presente.

Também por este motivo, manutenibilidade é a forma etimológica.

No entanto, Houaiss regista:

Manutência = manutenção.

E o Vocabulário da Academia Brasileira de Letras regista:

Manutível.

Ora, destes dois últimos termos também se pode estabelecer o termo manutibilidade, defendido pelo consulente. Será uma simplificação da forma erudita. A língua tem vários exemplos destas simplificações (ex.: saudade + oso > saudadoso > saudoso), formas que são aceitáveis quando estiverem generalizadas na comunidade culta que as utilizar. Ora, se for justamente este já o caso de `manutibilidade´, então, esta variante, para o mesmo conceito, poderá considerar-se que terá entrado no léxico pela via da sua utilização técnica. Dado que não contraria a índole da língua, será, então, do meu ponto de vista, tão legítima como a forma culta preconizada na errata da norma citada. A língua tem inúmeras destas duplicações com formas eruditas (ex.: herbanário/ervanário). Algumas vezes estabelecem confusão.

Ora uma das leis da vida é a sua renovação jovem.

Embora se deva respeitar a história de muitas gerações de falantes que as palavras trazem consigo, também uma língua que não se renova... fica ‘anquilosada´ (`ancilosada´, termo etimológico...)

Ao seu dispor,

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa