Para quem conhece a realidade cabo-verdiana, espanta-nos, desde logo, a facilidade com que os artistas ilhéus alternam a expressão em crioulo e em português. Dir-se-ia haver uma lusitanidade latente, que as origens oitocentistas da expressão artística no arquipélago poderiam explicar. Num segundo momento, dentro dessa africanidade que «atravessa o protesto para desembocar na libertação», partindo da «evocação da infância, da terra, da mãe», o condicionamento insular de Cabo Verde acrescenta «os temas da evasão e da anti-evasão» (Mário de Andrade). Desse facto resulta uma sensibilidade de tom saudoso, em que se associam facilmente a morna e o fado. Em terceiro lugar, não encontramos nesta literatura a virulência anticolonialista comum a outras. Aconselhamos, para mais largo excurso, os trabalhos de Alberto Carvalho e a bibliografia contida no verbete sobre Cabo Verde, em «Biblos. Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa», 1, Lisboa, 1995.