Agradaram-me muito as suas palavras de elogio à nossa comum língua. De facto a língua de Camões e de Machado de Assis é extremamente generosa na sua versatilidade e um encantamento nas suas formas carinhosas.
Como escreveu, são muitas as diferenças de termos usados em Portugal e no Brasil para iguais conceitos. Mas não admira. Isso acontece até num mesmo país. Os meus compatriotas que dizem aloquete ou loquete não estão errados, lá porque na minha região se diz cadeado.
Ora não é pelas variantes que há o risco de surgir uma separação drástica entre o português usado em Portugal e o usado no Brasil. Aliás, tem havido um esforço persistente dos linguistas dos dois países em aproximar as duas grafias, o que se nota bem nas duas normas em vigor.
O risco está nos políticos. Muitos não se cansam de falar, mas pouco fazem para a união da língua. Outros, por qualquer razão obscura, podem mesmo vir a provocar um fosso artificial, difícil depois de transpor.
Fosso efectivamente artificial. Dou um exemplo disso em Portugal. A tradicional rivalidade entre Porto e Lisboa tem sido tolamente exarcebada no futebol (curiosamente sempre mais entre o Futebol Clube do Porto e o Sport Lisboa e Benfica). Ora bem, aproveitando essa rivalidade tradicional, alguns políticos tentaram fazer uma separação por regiões entre o Norte e o Sul de Portugal; e toda a gente pensava que era essa a vontade do povo nortenho, no palavreado dos políticos. Mas, curiosamente, num referendo nacional, o Norte disse rotundamente não. Interpreto esta resposta como uma afirmação da nobre gente do Norte, inequívoca, de que não quer largar um Sul que também lhe pertence. Os políticos estavam errados. As raízes que unem todos os portugueses foram mais fortes. E Lisboa sabe que há para aqueles lados um "Porto Seguro", extremamente patriota, com que pode contar nos momentos de crise.
Da mesma maneira entre Portugal e o Brasil todo o fosso que os políticos venham a criar será sempre um pouco artificial, na amizade sincera que une portugueses e brasileiros, alguns mesmo com ancestrais comuns, primos na verdadeira acepção da palavra.
Julgo que, também, se houvesse um referendo aqui e aí sobre o futuro do português, a resposta por esmagadora maioria seria: "livres nas variantes, sim, mas cada vez mais irmãos nesta nossa amorável língua".
Ao seu dispor,