DÚVIDAS

Letras mudas no português do Brasil

Gostaria que D' Silvas Filho explicasse melhor o que quer dizer com este parágrafo: "que já não compreendo muito bem é que o meu Portugal mantenha consoantes mudas não pronunciadas ex.: direcção, recto, óptimo, etc., etc.). O argumento da nossa norma em vigor (que data de 1945...) é a história das palavras ou a pretensa utilidade para abrir a vogal anterior (o que se torna injustificável, por exemplo, em termos como didactismo ou táctica). Nisto, o seu Brasil está mais avançado, embora mantenha algumas incoerências (ex.: escreve Egito, mas tem egípcio; escreve caráter, mas tem caracteres; escreve noturno, mas tem noctívago; etc."

Egípcio aqui é pronunciado com p antes do c, não se trata de letra muda. O mesmo nas letras c que antecedem o t em caracteres e noctivago...

A única letra realmente muda, que me recordo, no português brasileiro é o p de Óptica que costuma ser grafado assim nos cursos de física das universidades, em contraposição a ótica, relacionada ao ouvido.

Resposta

Tem razão quanto às dúvidas com que ficou. Eu deveria ter escrito, em vez de simplesmente `consoantes mudas´, o texto: `consoantes que ficam mudas nas sequências ct, cc, cç, pt, pç, etc.´ Evidentemente que nem sempre são mudas, e eu não me esqueci desse facto no que escrevi. Usei simplesmente a designação geral que caracteriza o problema.

Quanto à sua afirmação, penso que, para quem no Brasil pronunciar afeção, bissetriz, corrução, etc., ficam também mudas as consoantes c e p (nas citadas sequências) respectivamente nas variantes brasileiras afecção, bissectriz, corrupção, etc., e noutras variantes que o léxico lhes permite com sensata abertura (fonte: dicionário Aurélio).

Aproveito, também, para fazer o seguinte reparo, receoso de que a sua nota envolva algum melindre, o que desejo de todo afastar, nesta enorme estima que tenho pelo Brasil: As incoerências a que me referi são exclusivamente gráficas (visto que em cada grupo os termos derivam da mesma raiz). Sublinho que, para quem defenda o critério fonético como fundamental, não há, na verdade, incoerência nenhuma nos exemplos apontados.

A propósito, desejo que fique igualmente claro que não defendo o primado do critério etimológico. A boa medida estará, no meu ponto de vista, numa solução que não divida intransigentemente a ortografia dos falantes da nossa comum língua. Talvez, sim, as duplas grafias, a que, como disse acima, sabiamente o vosso excelente Aurélio recorre.

Finalmente uma observação que o seu texto também me sugeriu. Na pergunta que me chegou por correio electrónico vinha inaceitavelmente Brasil escrito com inicial minúscula. Verifique se terá sido lapso seu. Permito-me lembrar que distracções deste tipo podem provocar problemas desagradáveis.

Ao seu dispor,

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa