DÚVIDAS

Inexistir (2)

A propósito de "inexistir" e da "lei do menor esforço", T.A. acaba por admitir a legitimidade de, quem quer que seja, formar novos termos, desde que não atropelem a gramática.
Conclui pela correcta formação do termo "inexistir", admitindo-o como não usual e não registado nos dicionários.Continuo, apesar disto, de acordo com as Respostas Anteriores onde se afirma, que "a forma negativa de existir é não existir".
De seguida, T.A. tece considerações quanto à clareza da linguagem forense e questiona da ofensa à Língua e aos direitos dos cidadãos.
Pergunta: a) no entender da ilustre filóloga há diferença entre a linguagem forense e a da administração pública?
b) Havendo diferença, onde se situa ela?
c) Se se situar no âmbito do que é habitual, que norma deve ser escolhida, de forma a que, sem atropelos da Língua Portuguesa, se garanta a defesa dos direitos dos cidadãos: a da administração pública ou a do foro?

Resposta

Caro consulente, depois de ler o seu recado e as suas novas perguntas, apetece-me parafrasear o Evangelho: aquele que nunca pecou atire a primeira pedra.

De hermetismo e calinadas de português está a linguagem da administração, diria mais, do Estado, bem cheia. Para colher exemplos, basta abrir o Diário da República.

A norma portuguesa é uma só: para o pedreiro e para o magistrado. Com a variedade de falas, de linguagens, de registos que a riqueza da própria língua permite e fomenta.

O que ainda não se perdeu na sociedade portuguesa foi, por assim dizer, o consentimento( como se de coisa natural se tratasse) na arrogância da Adiministração no seu todo, que se traduz em mil e um atropelos aos direitos dos cidadãos. Direitos dos quais fazem parte informação clara, acessível e pronta e respeito pela língua materna. Não quis, de modo nenhum, quando me referi à linguagem forense, eximir de responsabilidades qualquer ramo ou instância da Administração. Nem o Ciberdúvidas é local próprio para conflitos de poderes...

Quanto ao «inexistir», também prefiro não usar. Como também não uso «implementar».

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa