DÚVIDAS

Imotivação

«(…) Nenhum critério densificador do significado gradativo de tal diminuição quantitativa de dotação e da sua relação causal com o início do procedimento de requalificação no conceito e específico órgão ou serviço resulta da previsão legal, o que abre caminho evidente à imotivação. (…)», acórdão do Tribunal Constitucional sobre rubricas do Orçamento do Estado.

Tendo consultado vários dicionários, sem esquecer o incontornável Morais, não consegui encontrar o vocábulo imotivação. O mais próximo que se me deparou foi:

«Imotivo: Diz-se da germinação, quando se efectua sem deslocação do episperma»,

e ainda mais confuso fiquei, porque afinal o Morais remete-me para o domínio das hortaliças.

Grato pela ajuda que me possam dar para eu tentar compreender o vocábulo em causa.

Resposta

O Dicionário Houaiss regista imotivado nas seguintes aceções: «1. que não tem motivo; injustificado, gratuito. Ex.: um crime i. 2. Rubrica: linguística. Sem relação lógica ou analógica entre a forma e o significado (diz-se de signo linguístico); desmotivado, arbitrário.»

Este adjetivo imotivado tem origem num particípio passado que pressupõe um verbo imotivar, cujo radical permite a formação do substantivo imotivação, interpretável como «falta de justificação». Este substantivo não parece desconhecido da lexicografia brasileira, uma vez que se encontra registado no dicionário Aulete Eletrónico.

Observe-se ainda que, na linguística brasileira, ocorre o uso de motivado, imotivado e imotivação no contexto da discussão da arbitrariedade do signo linguístico:

«[...] nem tudo numa língua é absolutamente arbitrário ou imotivado. Com efeito, uma parte dos signos é dotada de uma arbitrariedade relativizada em graus, de tal sorte, que seu significante venha a ser escolhido devido a uma motivação bem definida. Assim é correto afirmar que as palavras vinte e dezenove são imotivadas, mas há entre elas graus distintos de imotivação [...]», Ricardo Cavaliere, Pontos Essenciais em Fonética e Fonologia (secção 122 da edição eletrónica).

Apesar de a palavra em causa ter aparentemente existência recente, não se afigura legítimo considerá-la incorreta.

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