DÚVIDAS

Haja vista...

Sendo português e residente no Brasil há muitos anos tenho usufruido momentos de grande prazer desta vossa criação. Sou dos que sofrem perante os maus tratos que tantos dão à nossa língua! A minha pergunta: «Haja visto, haja vistas...». A expressão, constantemente usada, soa muito mal em certas ocasiões. Afinal, devemos usá-la sob regência? Há necessidade de concordância?
Tenho ouvido:
Haja vista a ocorrência de...
Haja visto que nem sempre...
Haja visto o exemplo dado...
Haja vistas para tais casos...

Resposta

Caro compatriota, fomos encontrar no Dicionário de Questões Vernáculas de Napoleão Mendes de Almeida, gramático brasileiro, a resposta para a sua dúvida. «Haja vista» é uma expressão perifrástica, transitiva e invariável que equivale a «veja»: «Haja vista os exemplos dos antigos», «Haja vista as medidas tomadas pelo presidente». E abona a sua interpretação com citações de três clássicos, cultores da língua portuguesa: Castilho (Haja vista às tão preciosas e admiráveis fábulas de La Fontaine), Filinto Elísio (Haja vista a Plutarco e Xenofonte), Camilo (Haja vista dos elos que eles representam na cadeia da criação).

Resumindo, o sentido deste modo de dizer elíptico será « o leitor ou quem quer que seja tenha a vista lançada a...». O vocábulo que se lhe segue é o complemento (ou objecto) directo da expressão verbal.

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