No português antigo, o verbo haver empregava-se muito com o significado de ter, possuir. O nosso rei D. Duarte escreveu o seguinte na dedicatória do «Leal Conselheiro»:
(a) (... os poderes e paixões que cada huu [com til no 2.º u] de nós há». Reparemos nesta frase que transcrevo da 10.ª edição do dicionário de Morais Silva:
(b) F. houve muita riqueza e tudo num instante perdeu. Suponhamos a seguinte frase com o verbo haver a significar ter:
(c) Aqui há muitas oliveiras.
Esta frase corresponde à seguinte:
(d) Aqui [o Manuel] há muitas oliveiras.
Quando não se sabia qual o possuidor das oliveiras, dizia-se a frase (c), continuando-se a dar ao verbo haver o significado de ter, possuir.
Mas como eram muito correntes as frases do tipo da (c), foi-se perdendo a noção de que o verbo haver significava ter, e passou a atribuir-se-lhe o significado de existir, quando não tem sujeito.
O mesmo está acontecendo no Brasil com o verbo ter em frases como a seguinte:
(e) Aqui tem muitas oliveiras (= Aqui há muitas oliveiras = Aqui existem muitas oliveiras).
Não há incoerência, quando dizemos que os verbos impessoais não têm pessoa, porque o adjectivo impessoal significa «que não se refere ou não se dirige a uma pessoa em particular». Se não se refere a pessoa, não pode haver sujeito gramatical.
Não sei se me fiz compreender.