Comecemos pela definição dos conceitos. J. Mattoso Câmara Jr. (Princípios de Linguística Geral, Rio de Janeiro, Padrão-Livraria Editora, 1989, págs. 88) propõe três tipos de unidades significativas:
«[...] 1) forma presa, que só aparece ligada a outra e por ela condicionada; 2) forma dependente, que nunca aparece isolada, mas pode aparecer ligada a outra que não é aquela que a condiciona, quando entre ela e a sua condicionante se intercalam livremente outras formas; 3) forma livre, que aparece não raro isolada.»1
Mattoso considera que as formas livres e dependentes coincidem com os vocábulos. Digamos que a forma livre, que corresponde a um conceito difundido pelo linguista L. Blommfield (1887-1949), se identifica com o que se chama palavra lexical (principalmente substantivos; ver Dicionário Houaiss, s. v. palavra), enquanto uma forma dependente corresponde ao que outros linguistas designam como palavra funcional ou gramatical (sobretudo preposições e conjunções; ver ibid.). O conceito de forma presa, também popularizado por Bloomfield, opõe-se a forma livre e abrange afixos (ou seja, sobretudo prefixos e sufixos) e desinências (no caso do português, são verbais), isto é, trata-se de «qualquer unidade que não ocorre sozinha num enunciado, mas sempre presa a outra (p. ex.: o prefixo in- em infeliz; o sufixo -ndo em andando; o radical receb- de receber)» (ibid.).
Sendo assim, temos:
a, de, que: formas dependentes;
azul, lei, luz: formas livres;
desfazer, predisposto, felizmente: vocábulos que incluem formas presas, respectivamente des-, pre- e -mente.
1 O Dicionário de Termos Linguísticos apresenta as seguintes definições:
Forma presa: «Morfema que, por si só, não pode constituir uma palavra, sendo portanto, necessariamente, um constituinte de palavra. Numa acepção mais restrita, forma presa pode identificar apenas os significantes que se associam a outras formas presas, constituindo uma palavra. Exemplos: -sist-, consistir, insistir, desistir, resistir; -clar- em claro, clara; -mento-, aparecimento, reconhecimento.»
Forma dependente: «Forma não autónoma cujo significante se associa a outras formas dependentes ou livres, com elas constituindo um sintagma. Fonte: CARVALHO (1973).»
Forma livre: «Morfema que, por si só, pode constituir uma palavra. Exemplos: mar; com; um. Fonte: CARVALHO (1973).»