DÚVIDAS

Feito

No poema abaixo utilizei a palavra feito como conjunção.
   Mas tenho um amigo português que não concorda com o uso, diz-me que nesse poema devo usar a norma culta. Insisto com ele que não estou assassinando nem a Flor do Lácio, nem a gramática da língua portuguesa do Brasil.
   Podem me ajudar nessa contenda saudável?

   DUETO AMOROSO

   Êxtase de beijos:
   feito caniço existo,
   para ganhar carinho do vento.
   Teu sopro varre meus pêlos:
   viro lânguidas folhas eriçadas.

   Construímos geometria sem retas,
   para mãos em conchas
   descobrirem os caminhos da pele.
   Nossa orquestra afina ritmos
   no pulsar de cada músculo.

   Meu corpo tronco balança,
   tranço minhas pernas,
   meus braços tensos enlaçam tua nuca:
   danço, faço música.

   Em dueto virtuoso viro lacuna de mim.
   Repleta de tua melodia,
   tento não sucumbir,
   quando tocas meu corpo - platéia.

   Vergo às notas da paixão:
   sou frágil corda sinuosa
   ao compasso do tempo.
   Mulher–bambu:
   nascida para criar
   canções de amor,
   improvisando com o vento.

Resposta

A palavra feito não é nem pode ser conjunção, porque uma conjunção é uma palavra gramatical que serve para ligar, isto é, para fazer a junção dum elemento com outro. Como vemos, a própria denominação o diz: conjunção = com + junção.
   As conjunções ligam termos, orações ou períodos. Exs.:
   a) A Maria e o João foram passear.
   b) O João foi passear, mas a Maria ficou em casa.
   c) Desejo que fiques comigo. E desejo também que me ajudes neste trabalho.
   O vocábulo feito é o particípio passado do verbo fazer.
   A interpretação parece ser esta: "eu existo feito (transformado em) caniço." Ou então: "Existo (como) êxtase de beijos feito caniço." Será?

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