DÚVIDAS

Euro – Arredondamentos – Fracções do cêntimo

Na resposta à pergunta de Marco Politti sobre o extenso de valores com mais de duas casas decimais, o consultor do Ciberdúvidas comeca por responder muito acertadamente, como aliás é seu timbre. Mas, já mais para o fim da resposta, diz algo de que discordo: «Em Portugal, o valor em euros terá de ser arredondado quando for inferior à unidade de cêntimo».
Em Portugal, um valor em euros não tem necessariamente de se arredondar quando for inferior à unidade de cêntimo. Certos preços de bens ou servicos, por exemplo, o preço por segundo, ou mesmo por minuto, duma comunicação telefónica pode ter de ser expresso com muito mais casas decimais, por razões de rigor e nada obsta a que este preço seja escrito por extenso. Mesmo o preço da gasolina é expresso com mais de duas casa decimais. Quando falávamos (correctamente) em centavos, podíamos falar de milavos ou de décimas de milavos. Com a moda pernóstica dos cêntimos (moda que o Cibedúvidas tentou combater), será que devo dizer milêntimos?

Resposta

Começo por lhe agradecer a sua apreciação. Mas acertar não é um condão especial. Dá muito trabalho responder acertadamente. Na generalidade, é boa técnica deixar as respostas, depois de escritas, em sedimentação alguns dias (no meu caso são sujeitas a várias emendas sucessivas). A nossa língua tem areias movediças e pode sugerir interpretações na leitura que não estavam no espírito do escritor… É preciso ver e rever, procurando, de cada vez, prestar atenção ao fluxo de consciência, para evitar erros sistemáticos. Sobretudo em Ciberdúvidas, no qual se exige grande rigor nas respostas.
Mas vamos às suas observações.
Comecei por apanhar um susto no sublinhado do seu terá de ser. Seria que eu teria escrito o cacófato «terá que»? É que ainda não percebi bem a razão por que o inconsciente me prega esta partida às vezes… Mas não, isso estava correcto.
O que estava mal, pelos vistos, era a imposição implícita na expressão.
Concordo consigo. O valor em euros não tem nada de ser sempre arredondado. A minha generalização derivou da falta de experiência ainda com a nova moeda.
Aquilo que, no meu espírito, queria dizer, na ideia/idéia expressa (e cá está uma das tais ambiguidades que ocorrem na língua quando não se prevêem outras interpretações além da nossa) era que, nos pagamentos ou recebimentos finais, as fracções seriam arredondadas ao cêntimo, porque não há moeda inferior a este valor. Aliás, penso mesmo que o cêntimo tenderá a desaparecer da circulação após esta fase de conversão das duas moedas, pois com o escudo já se arredondava aos cinco escudos.
Aceito, porém, que, no estabelecimento de preços unitários susceptíveis de grande multiplicação, seja indispensável haver, pelo menos por agora, até fracções de cêntimo (ex.: gasolina, câmbios para outras moedas, etc.). O que duvido é (até com a desvalorização da moeda) que essas fracções apareçam no futuro.
Para escrever por extenso fracções de cêntimo, eu não aconselharia `milhavos´ ou `milhêntimos´. Recomendo décimas, centésimas ou milésimas de cêntimo.
Cêntimo, sim. A palavra é portuguesa também e já está dicionarizada (Rebelo Gonçalves; ex.: ACL-Verbo: «não lucrou um cêntimo com o negócio»). Se alguém condenou o termo em Ciberdúvidas, não fui eu… 
Ao seu dispor,

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