Existe o adjectivo etária como feminino de etário, relativo a idade.
O único dicionário em que encontrei etário diz que provém do latim aetate-, idade, + -ário, em cuja formação se deu o chamado fenómeno de haplologia.
Não parece que esteja certo. Ensina Rodrigo de Sá Nogueira nos "Elementos para um Tratado de Fonética Portuguesa", pág. 179:
«A dissimilação silábica vocabular regressiva por supressão (haplologia vocabular) consiste na supressão da primeira de duas sílabas iguais ou semelhantes de uma mesma palavra.» E, entre os muitos exemplos, dá os seguintes: bondades – bondoso; candidura – candura; contendedor – contendor; herededar – herdar.
No latim aetate – [= aetate(m)] não há a supressão da primeira sílaba de ta-te, mas a supressão de -ate-: aet(ate-)-ário.
A primeira sílaba do latim aetate- lê-se /è/: /é-tá-tè/; e daqui a pronúncia portuguesa /è-tá-rio/.
O que se deu, segundo me parece, foi o seguinte: a palavra etária não veio para português por via popular, porque em latim não existia aetariu(m) – pelo menos os dicionários de latim não mencionam.
Se não veio por via popular, veio por via erudita. Foram as pessoas cultas que, modernamente, (a palavra etária não é antiga), a formaram a partir da palavra latina que se enuncia da seguinte maneira: aetas, aetatis (nominativo e genitivo). O nosso etário não parece, pois, que venha do acustivo latino aetate(m), como diz o dicionário onde a encontrei, e como é assim que geralmente acontece. Os cultos verificaram que o radical da palavra latina é aet-, que entra no latim aeternus (eterno) e eternitas (eternidade), de cujo acusativo, respectivamente aeternum e aeternitatem, provém o nosso eterno e eternidade.
E tal como os Romanos, do radical aet-, formaram aeternus e aeternitas, os nossos cultos, baseando-se no mesmo radical, formaram etário por acrescentamento do sufixo português -ário, proveniente do latim -arius, que encontramos, por exemplo, em comentarius e herbarius. Isto é, os nossos latinistas formaram em português etário, como se em latim houvesse aetarius, cujo acusativo seria aetariu(m), e daqui o nosso etário.
Como vemos, está perfeitíssima a nossa palavra.
Obs 1 – Afirmei que etário não é palavra antiga, porque não a encontrei em dicionários antigos por mim consultados.
Obs 2 – Se o prezado consulente Cardoso Lopes me permite, acrescento mais suas observações:
a) Não é tido como correcto dizermos «deparei-me com um superdúvida», porque a superdúvida é que se me deparou. Outros exemplos: deparou-se-me um desastre de automóvel; depararam-se-me os teus filhos; e não: "deparei com os teus filhos; "deparei com um desatre de automóvel."
b) Não se escreve "super-dúvida", com hífen, mas superdúvida, tais como, por exemplo, superfino, superelegante, superprodução, etc.
O prefixo super só é seguido de hífen, quando o elemento seguinte tem vida à parte e começa por h ou por r que não se liga foneticamente ao r anterior, isto é, que não forma com ele o som rr: super-homem, super-requintado, etc.