Apenas se costuma ensinar que o elemento o da forma verbal canto é a desinência da primeira pessoa do singular do presente do indicativo. Não há desinências que indiquem o modo e o tempo. A desinência é um elemento morfológico aposto ao tema e que, nas flexões gramaticais, indica o género, o número e a pessoa.
Em canto, o o apenas indica a pessoa gramatical. A noção de singular é-nos dada verdadeiramente pela pessoa, e não pela desinência.
Para compreendermos melhor que o elemento o de canto é uma desinência e que, por isso, se junta ao tema, é indispensável irmos ao latim:
A forma verbal canto provém do latim canto; e esta de cantao, em que vemos os seguintes elementos: cant (raiz) + a (vogal temática) + o (desinência). Houve depois a contracção da vogal temática com a desinência, donde o latim canto.
Esta doutrina ensinam-na obras portuguesas e brasileiras. Mas há quem entenda que, em rigor, o o de canto é desinência de pessoa e de tempo.
Mais ainda: há obras brasileiras (nem todas) que estendem a designação de desinência ao tempo e ao modo dos verbos,como por exemplo em cantava. O elemento va, que em Portugal se costuma chamar característica, no Brasil há quem a denomine desinência de tempo-modo. Parece-me preferível a designação de característica, porque caracteriza – caracteriza o pretérito (tempo) do indicativo (modo). Os linguistas que resolvam o caso.