DÚVIDAS

Ditongo éi, novamente

Começo por agradecer a vossa resposta de 3/07/01 às minhas perguntas sobre este assunto. Fiquei esclarecido. De facto, nunca tinha notado a distinção entre dois tipos de pronúncia em Portugal, mas a verdade é que não sou de Lisboa nem de Coimbra.
Noto, porém, que se assim é a ortografia portuguesa instituída em 1910 parece-me um pouco incoerente. Porquê diferenciar graficamente entre os dois tipos de ditongo só em alguns casos excepcionais, deixando na dúvida os outros (como "ideia")? Neste aspecto, parece-me que a ortografia brasileira é mais consistente. (Mas não estou a incitar ninguém a adoptá-la aqui em Portugal.)
A propósito, ao contrário do que foi afirmado na resposta à minha pergunta anterior, eu nunca afirmei que o som "éi" não existia em Portugal. Aquilo que julgava era que as pessoas, que porventura o usassem, não usariam nenhum dos outros, da mesma forma que as pessoas que pronunciassem “âi” nunca pronunciariam “éi” nem “êi”, e as pessoas que pronunciassem “êi” nunca pronunciariam “âi” nem “éi”.
Os meus agradecimentos.

Resposta

É sempre um prazer trocar impressões com pessoas tão interessadas na nossa língua.

Sobre o assunto do `mútuo estudo´, acrescento: As terminações eia, em Portugal, taxativamente não são acentuadas para atender à variabilidade da pronúncia desta terminação, nem sempre ¦éia¦. Repare que a norma de 1945 foi o resultado de um acordo entre linguistas/lingüistas de Portugal e do Brasil; e, também nesta terminação eia, havia a preocupação de esbater diferenças. O que aconteceu foi que o Brasil entendeu que não podia obedecer a esse acordo (que, por exemplo, mantinha grafias já inaceitáveis nesse país). Como referi anteriormente, o novo acordo ortográfico, já referendado pelo Brasil, suprime de vez o acento nesta terminação para todo o universo da comum língua.

E, numa visão englobante (também com o respeito que devem merecer as variantes, porque enriquecem a língua), esta uniformização enquadra-se na ideia/idéia geral de que a grafia deve ser suficientemente flexível para não impor grandes sujeições a padrões de pronúncia, que, até, muitas vezes, podem ser discutíveis na sua vernaculidade.

Agora sinto que no seu espírito está já a borbulhar a dúvida quanto ao facto/fato de na terminação éis não se ter seguido este critério... Eu penso que foi para evitar as ambiguidades/ambigüidades que já referi (ex.: papeis, papéis). Mas há o artifício de se considerar que, se o acento distingue a grafia, nem sempre marca o timbre. A norma de 1945 (Base XIX) aceita esta hipótese para as proparoxítonas (esdrúxulas) de timbre diferente em Portugal e no Brasil (ex.: António pronunciado Antônio). E cito mais exemplos de que não pode haver rigidez na forma de pronunciar determinada grafia. O v tem em Portugal também o som de b (pronúncia que eu, mesmo sendo lisboeta, considero perfeitamente legítima entre os meus estimados compatriotas do Norte, a quem o país muito deve); a escrita do ditongo ou, mesmo assim grafado, é frequentemente/freqüentemente pronunciado oi, e vice-versa, etc.

Escreva mais vezes. Ficarei sempre ao seu dispor.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa