DÚVIDAS

Discurso indirecto: vir e ir

Qual a regra que sustenta a passagem do verbo ir para vir quando se passa do discurso direto para indireto?

Por ex.:

«Vim cá hoje com muito sacrifício só para te dizer adeus», disse o velho do realejo à miúda.

O emissor do discurso indireto é o narrador, não a miúda.

Resposta

Atendendo ao seu exemplo, que inclui o verbo vir em discurso directo, deve pretender saber o contrário DO que pede: quais os critérios que determinam a passagem de vir para ir na passagem para o discurso indirecto?

Não há regras taxativas, porque tudo depende do ponto de vista do narrador. Assim:

1. Se o narrador intervier como personagem na acção, por exemplo, como familiar da dita «miúda», vivendo na mesma casa que ela, é possível:

«O velho do realejo disse à miúda que vinha cá com muito sacrifício só para lhe dizer adeus.»

Neste caso, ao contrário do que é habitual em exercícios de passagem do discurso directo para o discurso indirecto, mantêm-se o advérbio e o verbo vir.

2. No entanto, atendendo a que a pergunta parece proceder das necessidades decorrentes da construção de um exercício escolar, considera-se — muito por uma convenção, no fundo, discutível — que há certas regras (ou, melhor, critérios) que envolvem um certo distanciamento no tempo e no espaço referidos no discurso indirecto. Conforme a esta perspectiva é a seguinte frase:

«O velho do realejo disse à miúda que tinha ido (fora) lá com muito sacrifício para lhe dizer adeus.»

Nesta frase, em contexto narrativo, o narrador distancia-se espacial e temporalmente, usando o verbo ir, que, ao contrário de vir, não pressupõe um movimento de aproximação, em direcção ao enunciador.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa