Quando fiz a observação sobre «deparo-me com variações», não pretendi generalizar, mas apenas referir-me àquela frase, e não aos regimes do verbo, senão teria muito que escrever. Mas exagerei no que disse.
O verbo deparar, além doutras significações, quer dizer:
1 – encontrar inesperadamente alguém ou alguma coisa sem contar com isso; defrontar; topar;
2 – aparecer; apresentar-se.
Aqui vão duas frases elucidativas. A Maria seguiu por uma rua da cidade, e depois diz:
(a) Já ia a dobrar a esquina e, de repente, deparei com o Pedro. Até nos íamos chocando.
Doutra ocasião, a Maria ia de automóvel por uma estrada fora, e conta a sua viagem, dizendo:
(b) ... a paisagem ia mudando, e, a certa altura, deparou-se-me uma extensa planície de videiras verdinhas e viçosas, que me encantaram.
Na frase (a), há o repentino e o inesperado. Por isso, empregamos a construção deparar com.
Na frase (b), não há o repentino e o inesperado que vemos na frase (a). É esta a situação da frase da nossa consulente Berenice. Falo menos, assim, a interpretar. E, por isso, devemos dizer deparam-se-me variações. Contudo exagerei, classificando a frase de errada, porque estamos mais em presença dum caso de estilo do que de pura correcção. Mas quê? Escorregou-me pelos dedos abaixo o maldito particípio errada, que se estampou no papel, atravessou o mar e só parou no Brasil. Que exagero o meu! Não sei a que foi devido. Talvez a distracção. Mas não tem importância. Agarro já com garra no amaldiçoado particípio errada, puxo por ele com toda a força... e zás!, atiro-o já para o lixo. E peço ao Ciberdúvidas que faça o mesmo. Pronto! Já está no lixo e lá fica, porque esta é muito mais de estilo do que de pura correcção.
E para terminar: estou muito agradecido à nossa prezada D.ª Berenice – mesmo muito! – por me ter chamado a atenção para o caso. E aqui vai um pedido de desculpa com um bem haja pela delicadeza com que tratou o Ciberdúvidas. E foi tanta, que se lembrou até de receber «puxão de orelhas» por si própria imaginado... mas nada, nada merecido!