Acerca da Castro, anonimamente publicada em 1587, mas de atribuição ao poeta António Ferreira (que morreu em 1569), muitas considerações seriam importantes. Depende de quem lê esta tragédia (e tragédia porquê? É, já, uma boa pergunta, cuja resposta, em síntese, está no verbete «Castro» do Dicionário de Literatura, de Jacinto do Prado Coelho, I, p. 165), tragédia de título assim reduzido na 2.ª edição, quando se juntou aos Poemas Lusitanos daquele (1598), pois, inicialmente, chamava-se Tragédia mui sentida e elegante de Dona Inês de Castro. Num segundo momento, convém saber quem foi Inês de Castro, figura ainda problemática na relação (outros dirão paixão) com D. Pedro I e o que isso significou quase no final da primeira dinastia. Confrontadas as versões sobre a figura histórica, veja-se o seu aproveitamento pela literatura, nacional e castelhana, num primeiro momento, e logo internacional. Naquele caso, ainda hoje se discute se a obra é, mesmo, de Ferreira; se teve primazia sobre alguns títulos castelhanos; qual a força da tradição popular, ao lado de escritores que o precederam, como Garcia de Resende no seu Cancioneiro Geral (1516), na constituição de tal caso amoroso, que nem a morte venceu. É, todavia, consensual a fortuna do tema, aqui recomendando, para se ter uma pequena ideia de êxito verdadeiramente universal, balanço de Adrien Roig, com Inesiana ou Bibliografia Geral sobre Inês de Castro, Coimbra, 1986. Razões de Estado podem ter estado na origem de um crime nefando, ordenado por D. Afonso IV, contra quem se revolta o infante, futuro D. Pedro I, que se vinga nos algozes Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves: o coração daquele sai pelo peito; o deste sai pelas costas. A peça termina com jura do infante, que fará de Inês rainha, dos filhos infantes e, do respectivo amor, eterna companhia, «té que deixe / O meu corpo co teu; e lá vá est'alma / Descansar com a tua para sempre.» O que, para os corpos, se vê em Alcobaça; e, para o espírito, em milhares de páginas e múltiplas representações artísticas, do teatro à pintura, da música ao cinema.