A resposta a esta questão não é fácil. Pedimos, por isso, a colaboração de dois nossos consultores, o linguista José Neves Henriques e o jornalista, especialista em línguas africanas, Rui Ramos. Aproveitamos ainda para transcrever o que sobre a questão geral do aportuguesamento dos antropónimos estrangeiros dizem a drª Edite Estrela e o professor J. David Pinto Correia, no seu "Guia Essencial da Língua Portuguesa para a Comunicação Social". Devido à extensão deste tema, dividi-lo-emos em três partes.
O dr. José Neves Henriques defende que se adapte à Língua Portuesa o modo como no Zaire (de novo agora chamado Congo) se pronunciam ambas as palavras em questão: /Ca-bí-la/, /Mò-bú-to/. Com a seguinte argumentação:
«A regra (bem antiga) para o aportuguesamento destes antropónimos de origem estrangeira (ou de qualquer outra palavra) já vem do tempo dos Descobrimentos portugueses. Siga-se, pois, a lição desses tempos: atentemos bem na pronúncia do país de origem e transcrevamo-las em português. Seguiremos, assim, principalmente, a pronúncia, mas respeitando sempre a índole da nossa língua. É por isso que há palavras estrangeiras (caso dos topónimos, que seguem a mesma regra) cujo aportuguesamento foge claramente à pronúncia original. Paris, por exemplo.
«Se Kabila fosse palavra aguda, escreveríamos (e pronunciaríamos) Cabilá, como dizem os franceses. Se fosse esdrúxula, seria Cábila. Sendo grave (como parece que é essa a pronúncia local, na língua lingala) será Cabíla. É assim que parece ser, pois, a pronúncia correcta: /Ca-bí-la/.
«Sobre a palavra Mobutu, soube por pessoa, que viveu no então Congo Belga que os naturais pronunciam assim: /Mò-bú-to/. Transcrevendo-a para português, como é o mais aconselhável, teremos Mobuto. Se quisermos respeitar a grafia da última sílaba, escreveremos Mobútu. Esta forma, contudo, não é a verdadeiramente aconselhável, mas sim a anterior. Mobutu. Está mais de acordo com a nossa ortografia».
Vejamos a seguir o que sobre estas mesmas palavras diz o jornalista Rui Ramos.