Bunda, aportuguesamento do quimbundo mbunda, significa no original como na nossa linguagem corrente «traseiro». Vários dicionários de português o referem.
No dicionário da Academia das Ciências de Lisboa vem: «s.f. (Do quimbundo mbunda, "nádegas"). Nádegas = cu (Pop), rabo, traseiro.» Já o dicionário Houaiss regista: «Região glútea; as nádegas (...) A palavra está registada no "Novo Dicionário da Língua Portuguesa" (1836), de Constâncio, como um angolismo (...). Etimologicamente vem do quimbundo "mbunda", quadris, nádegas.»
Quanto ao Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis, lê-se este mimo: «Designativo de uma língua falada pelos pretos de Angola». E, mais adiante: «Diz-se de qualquer linguagem corrupta e dissonante. (gír) Reles, sem valor. Língua do grupo banto de Angola e costas vizinhas, Congo e Benguela. Sin. do quimbundo: bunda (quimbundo: mbunda) Nádegas.»
Finalmente, o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa: bunda (do quimbundo mbunda).(...) As nádegas e o ânus. (...) A parte carnosa do corpo formada pelas nádegas.»
À parte essa referência à «linguagem corrupta e dissonante», a que não é alheia a visão colonialista sobre os negros africanos e a sua maneira de se expressar em português, todos os dicionários citados são unânimes no significado certo da palavra, seja na variante em português ou em quimbundo.
É, afinal, o que em Angola se diz correntemente para significar «traseiro». Nomeadamente, o traseiro feminino. E, ainda mais em especial, quando ele é motivo de admiração: «Que grande bunda!»...
Quanto à dificuldade de se encontrar à venda um Dicionário Quimbundo-Português é porque...não há, pura e simplesmente. O de Cordeiro da Matta, muito antigo, continua a ser a grande referência. Encontramo-lo só nalgumas (boas) bibliotecas ou, ainda mais raramente, num ou noutro alfarrabista.
N.E. – Registo da palavra bunda no Museu da Lingua Portuguesa, em São Paulo, Brasil:
«Bunda – Palavra muitas vezes considerada popular e pejorativa. "Mbunda" foi trazida pelos primeiros negros escravizados do século XV, falantes do Quicongo (língua ainda falada em algumas regiões de Angola). Acredita-se que a conotação indelicada dada a essa expressão está justamente por sua origem não-europeia e pelo preconceito com a exposição da nudez na sociedade portuguesa da época.»